Acordei quase 09h00, bem atrasado para a rotina do Caminho. Tomamos café, ajudamos a arrumar a bagunça do jantar e virei hospitaleiro por uns 20 minutos: carimbei a credencial de uns peregrinos curiosos, e indiquei a "fuente". Foi divertido. Deixei uma mensagem no caderno de visitas que passarei minha aposentadoria como hospitaleiro em San Bol.
Saímos eu, Robert e Bethany. A mesma paisagem de ontem: caminho de terra e feno e calor. Muito calor.
Um pouco antes de Castrojeriz, há o que sobrou do Convento Sán Anton, aonde funciona agora um albergue de peregrinos. O pai de Bethany canta num coral, e participa de concursos. Bethany cantou, nas ruínas, Ave Maria num razoável latim. Foi uma música bem apropriada para o que víamos alí. Bonito.
Chegamos em Castrojeriz! Tomei um merecido banho de 20 minutos e fui lavar minha roupa, que estava acumulada e fétida. Na cidade, fiz compras pra janta e pro café, e gastei 4 euros em 1 hora de internet. LADRÕES! Só consegui atualizar 3 dias no blog... tou atrasado com isso... hehehe
Castrojeriz é uma tripa. Uma rua apenas, com uns 2km de extensão. Uma cidade muito estranha...
Total percorrido hoje: 17km
quinta-feira, junho 15
02/06 - Burgos até Arroyo San Bol
Saí de Burgos acompanhado de Bethany, uma americana que havia conhecido há uns dois dias. Mais conversação em inglês... vou voltar craque pro Brasil, hehehe.
Paramos em Rabé de las Calzadas para comer alguma coisa, e encontrei por lá Gemma, uma holandesa que já via desde Roncesvalles e Manoel, de Madri, que conheci em Zubiri, e, claro, outras pessoas que você conhece de vista, mas nunca sabe ou lembra o nome... é muita gente pra minha cabecinha lembrar.
As estradas neste trecho são uma maravilha: um caminho de terra batida, cercado de montanhas com feno por todos os lados. O vento estava em direçao ao oeste, como o Caminho, e o efeito no feno faz lembrar o mar. Bonito pra caralho!
Numa parada pra tomar água reencontrei Rasmus, e apareceu uma mulher inglesa que eu nunca havia visto. Seguimos juntos, e encontramos, no meio do nada, uma plaquinha indicando uma "fuente", ou fonte, como preferirem. Estava um calor dantesco, e a água estava acabando.
Chegamos a San Bol. Uma casa estranha, com uma cúpula tipo de igreja, uma bandeira escrito PACE, paz, entre as cores do arco-íris, uma piscina e nada mais. Dois loucos nos receberam. Italianos. Perguntamos do hospitaleiro, e eles disseram que não havia hospitaleiro. Estranho. Depois de muita conversa descobrimos que haviam 4: Virgilio e Julio, os italianos, um húngaro e uma espanhola. Encontrei já instalados Gemma, Robert, do "fellowship of the Camino", e uma francesa que nao lembro o nome. Depois chegaram mais pessoas, entre elas, Karin, também do fellowship.
Somente à base de donativos, a casa sobrevive e nos provém de bom vinho e uma lauta refeição, que pede a ajuda de todos para a preparação. Violão, tambores parecidos com atabaques, flauta transversal, um tubo de uns 2 metros que faz um som contínuo - me lembrou algo tibetano, sei lá -, isto é, FESTA!
A casa por dentro é toda pintada com desenhos doudos, e cheia de papéis pendurados. Um deles, que me chamou a atenção e risos, estava escrito: "Paulo Coelho vende chorizos".
Não havia banheiro. Logo, NÃO HAVIA DUCHA! Um cano de água que alimentava a piscina era a nossa reserva de água potável. A piscina era bem gelada, por causa da água de montanha. Por outro cano, caía água para fora, a fim de circular a água da piscina e funcionar como torneira para lavar roupa e tomar banho. Frio. Três dias sem banho é sacanagem, né? Tomei um ridículo banho-de-gato, mas pelo menos lavei um pouco minhas partes vitais, e finalmente troquei de cueca!
Peguei o tambor pra tocar e não larguei mais. A galera me elogiou, dizendo algo como: só podia ser brasileiro pra tocar assim... hehehe. Tocamos antes e depois do jantar. Anoiteceu. Os hospitaleiros nos chamaram para dentro, para o RITUAL.
Luzes apagadas, e um caldeirão com chama azul no meio da sala. Com uma concha, o líquido era mexido e derramado novamente no caldeirão. Virgilio leu uma poesia italiana de boa sorte aos peregrinos e bebemos a poção. Surreal. Mais música e vinho. Fomos dormir umas 2 da matina.
Esta foi a primeira noite que vi a lua e as estrelas da Espanha. Mas não consegui enxergar a Via Láctea, ainda...
Total percorrido hoje: 25km
Paramos em Rabé de las Calzadas para comer alguma coisa, e encontrei por lá Gemma, uma holandesa que já via desde Roncesvalles e Manoel, de Madri, que conheci em Zubiri, e, claro, outras pessoas que você conhece de vista, mas nunca sabe ou lembra o nome... é muita gente pra minha cabecinha lembrar.
As estradas neste trecho são uma maravilha: um caminho de terra batida, cercado de montanhas com feno por todos os lados. O vento estava em direçao ao oeste, como o Caminho, e o efeito no feno faz lembrar o mar. Bonito pra caralho!
Numa parada pra tomar água reencontrei Rasmus, e apareceu uma mulher inglesa que eu nunca havia visto. Seguimos juntos, e encontramos, no meio do nada, uma plaquinha indicando uma "fuente", ou fonte, como preferirem. Estava um calor dantesco, e a água estava acabando.
Chegamos a San Bol. Uma casa estranha, com uma cúpula tipo de igreja, uma bandeira escrito PACE, paz, entre as cores do arco-íris, uma piscina e nada mais. Dois loucos nos receberam. Italianos. Perguntamos do hospitaleiro, e eles disseram que não havia hospitaleiro. Estranho. Depois de muita conversa descobrimos que haviam 4: Virgilio e Julio, os italianos, um húngaro e uma espanhola. Encontrei já instalados Gemma, Robert, do "fellowship of the Camino", e uma francesa que nao lembro o nome. Depois chegaram mais pessoas, entre elas, Karin, também do fellowship.
Somente à base de donativos, a casa sobrevive e nos provém de bom vinho e uma lauta refeição, que pede a ajuda de todos para a preparação. Violão, tambores parecidos com atabaques, flauta transversal, um tubo de uns 2 metros que faz um som contínuo - me lembrou algo tibetano, sei lá -, isto é, FESTA!
A casa por dentro é toda pintada com desenhos doudos, e cheia de papéis pendurados. Um deles, que me chamou a atenção e risos, estava escrito: "Paulo Coelho vende chorizos".
Não havia banheiro. Logo, NÃO HAVIA DUCHA! Um cano de água que alimentava a piscina era a nossa reserva de água potável. A piscina era bem gelada, por causa da água de montanha. Por outro cano, caía água para fora, a fim de circular a água da piscina e funcionar como torneira para lavar roupa e tomar banho. Frio. Três dias sem banho é sacanagem, né? Tomei um ridículo banho-de-gato, mas pelo menos lavei um pouco minhas partes vitais, e finalmente troquei de cueca!
Peguei o tambor pra tocar e não larguei mais. A galera me elogiou, dizendo algo como: só podia ser brasileiro pra tocar assim... hehehe. Tocamos antes e depois do jantar. Anoiteceu. Os hospitaleiros nos chamaram para dentro, para o RITUAL.
Luzes apagadas, e um caldeirão com chama azul no meio da sala. Com uma concha, o líquido era mexido e derramado novamente no caldeirão. Virgilio leu uma poesia italiana de boa sorte aos peregrinos e bebemos a poção. Surreal. Mais música e vinho. Fomos dormir umas 2 da matina.
Esta foi a primeira noite que vi a lua e as estrelas da Espanha. Mas não consegui enxergar a Via Láctea, ainda...
Total percorrido hoje: 25km
sábado, junho 10
01/06 - San Juan de Ortega até Burgos
Acordei muito bem! Minha melhor noite de sono até agora no Caminho. Agradeço muito a San Juan de Ortega, que está sepultado no subsolo da igreja. Tentei descer até lá, mas estava tudo escuro, e com a lanterna vi apenas mais um lance de escada de pedra muito úmida e antiga, e um silêncio mortal assustador demais para arriscar a descer... sim, fiquei com medo... subi quase correndo as escadas... hehehe.
Meus pés estão bem melhores! Acho que hoje irei até Burgos! Fui caminhando e cantando, e tocando kazzoo, e seguindo o vento, os pássaros, e as setas amarelas. Quem passava por mim achava que eu era um louco... hehehe. Dei um upgrade no meu cajado, e coloque em sua ponta vários tipos de folhagens que eu encontrava pelo caminho... está horrível, mas eu gostei...
A cada pueblo, meu pé começava a reclamar. Antes de sair enfaixei o pé direito, e agora ele estava doendo.
Resolvi parar em Villafria, uma cidade antes de Burgos. Esqueça! Naquela merda não tem albergue, as pessoas são frias e o único hotel, de nome Buenos Aires, era uma fortuna, e argentino demais... hehehe.
Parei na saída de Villafria para rearranjar meus pés. Cortei metade da faixa do pé direito e coloquei no esquerdo. Tá foda. E eu tenho mais uns 4 km até Burgos. Até a ENTRADA de Burgos.
UM SACO! Uma estrada feia, muitos caminhões, poluição visual e nasal, muitas fábricas. Quero voltar para San Juan de Ortega!
Entrei em Burgos, e parei no shopping para achar uma farmácia aberta - cheguei no meio da siesta, claro - mas no shopping não havia farmácia. Comprei no supermercado um colchonete, para dormir melhor ao relento, mais filmes para a máquina e outros troços fundamentais. PORRA! PERDI MEUS ÓCULOS! FIQUEI PUTO! Meu bom e velho Armani, que me acompanhava já há uns 8 anos... armação com grau e lente escura acoplável... uma grande e triste perda... Aprendi que as coisas materiais são apenas... coisas materiais. Da vida nada se leva, mesmo, apenas carregamos o conhecimento e a sabedoria...
Burgos SUCKS! Me senti como um extra-terrestre, um palhaço, um interno do Juqueri todo cagado, e outras coisas piores. As pessoas me olhavam com repugnância, uma merda! Quero voltar para San Juan de Ortega!!!!!!!!
A cidade é enorme! Andei 7km por dentro dela para encontrar o albergue. Achar setas amarelas nesta cidade é como uma gincana: você fica que nem bobo procurando uma maldita indicação...
Cheguei quase às 20h00 no albergue, e o banheiro estava LASTIMÁVEL, e não tinha porta na ducha para proteger a minha grana. Desencanei. Outro dia sem banho... Amanhã, quem sabe...
Total percorrido hoje: 34,5km
Meus pés estão bem melhores! Acho que hoje irei até Burgos! Fui caminhando e cantando, e tocando kazzoo, e seguindo o vento, os pássaros, e as setas amarelas. Quem passava por mim achava que eu era um louco... hehehe. Dei um upgrade no meu cajado, e coloque em sua ponta vários tipos de folhagens que eu encontrava pelo caminho... está horrível, mas eu gostei...
A cada pueblo, meu pé começava a reclamar. Antes de sair enfaixei o pé direito, e agora ele estava doendo.
Resolvi parar em Villafria, uma cidade antes de Burgos. Esqueça! Naquela merda não tem albergue, as pessoas são frias e o único hotel, de nome Buenos Aires, era uma fortuna, e argentino demais... hehehe.
Parei na saída de Villafria para rearranjar meus pés. Cortei metade da faixa do pé direito e coloquei no esquerdo. Tá foda. E eu tenho mais uns 4 km até Burgos. Até a ENTRADA de Burgos.
UM SACO! Uma estrada feia, muitos caminhões, poluição visual e nasal, muitas fábricas. Quero voltar para San Juan de Ortega!
Entrei em Burgos, e parei no shopping para achar uma farmácia aberta - cheguei no meio da siesta, claro - mas no shopping não havia farmácia. Comprei no supermercado um colchonete, para dormir melhor ao relento, mais filmes para a máquina e outros troços fundamentais. PORRA! PERDI MEUS ÓCULOS! FIQUEI PUTO! Meu bom e velho Armani, que me acompanhava já há uns 8 anos... armação com grau e lente escura acoplável... uma grande e triste perda... Aprendi que as coisas materiais são apenas... coisas materiais. Da vida nada se leva, mesmo, apenas carregamos o conhecimento e a sabedoria...
Burgos SUCKS! Me senti como um extra-terrestre, um palhaço, um interno do Juqueri todo cagado, e outras coisas piores. As pessoas me olhavam com repugnância, uma merda! Quero voltar para San Juan de Ortega!!!!!!!!
A cidade é enorme! Andei 7km por dentro dela para encontrar o albergue. Achar setas amarelas nesta cidade é como uma gincana: você fica que nem bobo procurando uma maldita indicação...
Cheguei quase às 20h00 no albergue, e o banheiro estava LASTIMÁVEL, e não tinha porta na ducha para proteger a minha grana. Desencanei. Outro dia sem banho... Amanhã, quem sabe...
Total percorrido hoje: 34,5km
31/05 - Villafranca Montes de Oca até San Juan de Ortega
Dia para descanso: caminhei até o próximo pueblo, apenas. Meus pés dóem muito.
Fiz o trajeto acompanhado de Karen, minha amiga de Liverpool, que reencontrei no albergue, ontem. Robert, o holandês, fez umas pulseirinhas para ele, para mim, para Karen, Karin, outra alemã, e Rasmus. Algo como "the fellowship of the Camino", hehehe. "Go, caminuístas!", gritou Rasmus... para um dinamarquês, até que faz sentido...
Subida e mais subida! Mas pelo menos a paisagem mudou. Floresta, novamente! Uma fria manhã, com cara de chuva.
Chegamos em San Juan de Ortega por volta das 12h00. Me despedi da galera do "fellowship of de Camino" como se eu fosse ficar aqui para morrer. Foi duro dizer adeus para Karen. Ganhei uma grande hermana, e um lugar para ficar quando visitar Liverpool. Fiquei ali, nas estrada, vendo-os sumir no horizonte. É triste ficar para trás, mas eu precisava deste descanso para me renovar...
Fiquei horas escrevendo e bebendo vinho na rua, em frente ao ÚNICO bar da cidade, que era ao lado do ÚNICO albergue da cidade, que era ao lado da ÚNICA igreja da cidade, que eram as ÚNICAS coisas da cidade, hehehe. San Juan de Ortega é meio quarteirão, e é maravilhosa!
Jantei um prato típico e famoso na região: morcillas! Lê-se morcílhas. É um tipo de paio, de cor negra, com arroz, sangue e carne de porco. Show de bola!
Fui dormir às 21h00, e sem banho. Neste albergue só tinha água fria, e tava muito frio pra isso. Amanhã é outro dia e outro albergue... tomo banho por lá...
Total percorrido hoje: 13km
Fiz o trajeto acompanhado de Karen, minha amiga de Liverpool, que reencontrei no albergue, ontem. Robert, o holandês, fez umas pulseirinhas para ele, para mim, para Karen, Karin, outra alemã, e Rasmus. Algo como "the fellowship of the Camino", hehehe. "Go, caminuístas!", gritou Rasmus... para um dinamarquês, até que faz sentido...
Subida e mais subida! Mas pelo menos a paisagem mudou. Floresta, novamente! Uma fria manhã, com cara de chuva.
Chegamos em San Juan de Ortega por volta das 12h00. Me despedi da galera do "fellowship of de Camino" como se eu fosse ficar aqui para morrer. Foi duro dizer adeus para Karen. Ganhei uma grande hermana, e um lugar para ficar quando visitar Liverpool. Fiquei ali, nas estrada, vendo-os sumir no horizonte. É triste ficar para trás, mas eu precisava deste descanso para me renovar...
Fiquei horas escrevendo e bebendo vinho na rua, em frente ao ÚNICO bar da cidade, que era ao lado do ÚNICO albergue da cidade, que era ao lado da ÚNICA igreja da cidade, que eram as ÚNICAS coisas da cidade, hehehe. San Juan de Ortega é meio quarteirão, e é maravilhosa!
Jantei um prato típico e famoso na região: morcillas! Lê-se morcílhas. É um tipo de paio, de cor negra, com arroz, sangue e carne de porco. Show de bola!
Fui dormir às 21h00, e sem banho. Neste albergue só tinha água fria, e tava muito frio pra isso. Amanhã é outro dia e outro albergue... tomo banho por lá...
Total percorrido hoje: 13km
30/05 - Redecilla del Camino até Villafranca Montes de Oca
Hoje resolvi fazer um teste: voltar a andar com as minhas botas. Estavam apertadas, mas mesmo assim coloquei. Vamos ver o que vai dar...
Encontrei Rasmus logo na saída da cidade, e caminhamos juntos. Ele perguntou a minha religião, e eu disse que era um pouco católico e espírita. Ele não sabia o que era espiritismo, e eu expliquei com o meu "maravilhoso" inglês. Foi interessante... Ele entendeu! E os 7km passaram bem rápido.
Em Villamayor del Rio, tomamos café no albergue Acácio & Orietta. Acácio é brasileiro, e está há sete anos no Caminho de Santiago como hospitaleiro. Figura. O albergue é um pedacinho do Brasil... muito bem instalado. Se calhar, na sua viagem, tente passar a noite aqui: vale a pena.
Coloquei novamente a papete. A bota estava me incomodando muito, e fiquei com medo de ganhar novas bolhas. O problema da papete é que o pé não fica muito protegido, e você corre o risco de torcê-lo com mais facilidade.
Andei um pouco devagar. Meus pés dóem... toda a sola, e um pouco nos tornozelos... chegar até o meu destino foi um sacrifício. A cada pueblo, uma parada para tirar as meias e fazer uma massagem.
A primeira coisa que fiz em Villafranca foi parar na farmácia. Comprei um Redoxon, com 15 comprimidos efervecentes que repõe as vitaminas e sais minerais perdidas na caminhada.
Total percorrido hoje: 24km
Encontrei Rasmus logo na saída da cidade, e caminhamos juntos. Ele perguntou a minha religião, e eu disse que era um pouco católico e espírita. Ele não sabia o que era espiritismo, e eu expliquei com o meu "maravilhoso" inglês. Foi interessante... Ele entendeu! E os 7km passaram bem rápido.
Em Villamayor del Rio, tomamos café no albergue Acácio & Orietta. Acácio é brasileiro, e está há sete anos no Caminho de Santiago como hospitaleiro. Figura. O albergue é um pedacinho do Brasil... muito bem instalado. Se calhar, na sua viagem, tente passar a noite aqui: vale a pena.
Coloquei novamente a papete. A bota estava me incomodando muito, e fiquei com medo de ganhar novas bolhas. O problema da papete é que o pé não fica muito protegido, e você corre o risco de torcê-lo com mais facilidade.
Andei um pouco devagar. Meus pés dóem... toda a sola, e um pouco nos tornozelos... chegar até o meu destino foi um sacrifício. A cada pueblo, uma parada para tirar as meias e fazer uma massagem.
A primeira coisa que fiz em Villafranca foi parar na farmácia. Comprei um Redoxon, com 15 comprimidos efervecentes que repõe as vitaminas e sais minerais perdidas na caminhada.
Total percorrido hoje: 24km
terça-feira, junho 6
29/05 - Azofra até Redecilla del Camino
Esqueci de comentar: ontem furei minha primeira bolha!
Meu dedinho do pé direito era uma bolha com unha, hehehe. Nao dói nada! É só tomar cuidado, e atravessar apenas a pele com a agulha...
Dia perfeito para caminhar! Nublado, com vento um pouco frio. Os quilômetros vão muito mais rápido nestas condições... em menos de uma hora e meia andei 8km.
Em Cirueña, ouço algo familiar: "aonde fica essa porra?". Brasileiros! Luiz, de São Paulo, Lisboa, de Santos, e Marcos, de Botucatu. Os 3 se conheceram no caminho, e têm andado juntos desde então. É bom conversar em português de vez em quando. Marcos disse que no check-in, em São Paulo, sua mala pesou 9kg. A moça perguntou se ele faria o Caminho, e ele perguntou se sua mochila estava muito pesada. Ela respondeu que uns dois dias atrás, um louco estava levando 17,5kg para a mesma viagem... hehehe! Fiquei famoso!
Santo Domingo de la Calzada: que cidade! A catedral é fabulosa. Pena que não era permitido fotografar no interior... Existe mesmo um galo vivo lá dentro, e ele não cantou para mim... :(
Cheguei em Grañon para ficar. Duas horas depois, sentado no bar tomando cañas (lê-se cânhas - é como chamam o chopp daqui) de San Miguel, una cerveza mui buena, aparecem Rasmus, o dinamarquês, Mira e Rarder, da República Tcheca. Me convenceram, e andei mais 40 minutos até Redecilla.
Tomei uma sopa castellana, que vai pão, pimentão, chorizo, ovo e alho. Muito boa! Depois, tortilla de atum. A tortilla espanhola é um simples omelete, e é muito comum aqui comê-la a qualquer hora do dia.
Total percorrido hoje: 30km
Meu dedinho do pé direito era uma bolha com unha, hehehe. Nao dói nada! É só tomar cuidado, e atravessar apenas a pele com a agulha...
Dia perfeito para caminhar! Nublado, com vento um pouco frio. Os quilômetros vão muito mais rápido nestas condições... em menos de uma hora e meia andei 8km.
Em Cirueña, ouço algo familiar: "aonde fica essa porra?". Brasileiros! Luiz, de São Paulo, Lisboa, de Santos, e Marcos, de Botucatu. Os 3 se conheceram no caminho, e têm andado juntos desde então. É bom conversar em português de vez em quando. Marcos disse que no check-in, em São Paulo, sua mala pesou 9kg. A moça perguntou se ele faria o Caminho, e ele perguntou se sua mochila estava muito pesada. Ela respondeu que uns dois dias atrás, um louco estava levando 17,5kg para a mesma viagem... hehehe! Fiquei famoso!
Santo Domingo de la Calzada: que cidade! A catedral é fabulosa. Pena que não era permitido fotografar no interior... Existe mesmo um galo vivo lá dentro, e ele não cantou para mim... :(
Cheguei em Grañon para ficar. Duas horas depois, sentado no bar tomando cañas (lê-se cânhas - é como chamam o chopp daqui) de San Miguel, una cerveza mui buena, aparecem Rasmus, o dinamarquês, Mira e Rarder, da República Tcheca. Me convenceram, e andei mais 40 minutos até Redecilla.
Tomei uma sopa castellana, que vai pão, pimentão, chorizo, ovo e alho. Muito boa! Depois, tortilla de atum. A tortilla espanhola é um simples omelete, e é muito comum aqui comê-la a qualquer hora do dia.
Total percorrido hoje: 30km
28/05 - Navarrete até Azofra
Tomamos um café com leite no bar e zarpamos. Andamos em silêncio. Todos acordaram de mau humor.
Em Nájera, nos despedimos de Katrin. Ela iria para Bilbao, encontrar com sua mãe. Trocamos e-mails e fotos, e continuamos a estrada.
Pegamos um sol absurdo até Azofra. Chegamos em estado deplorável, mas tivemos nossa recompensação: um albergue-paraíso, muito bem instalado, e com cozinha.
Tomei um belo banho, lavei minhas roupas e fomos ao supermercado comprar nosso jantar: omelete! Ovos, cebola, queijo, milho, alho e mexilhões. Um banquete reforçado para amanhã. Mais estrada pela frente...
20km percorridos hoje
Em Nájera, nos despedimos de Katrin. Ela iria para Bilbao, encontrar com sua mãe. Trocamos e-mails e fotos, e continuamos a estrada.
Pegamos um sol absurdo até Azofra. Chegamos em estado deplorável, mas tivemos nossa recompensação: um albergue-paraíso, muito bem instalado, e com cozinha.
Tomei um belo banho, lavei minhas roupas e fomos ao supermercado comprar nosso jantar: omelete! Ovos, cebola, queijo, milho, alho e mexilhões. Um banquete reforçado para amanhã. Mais estrada pela frente...
20km percorridos hoje
27/05 - Viana até Navarrete
Na saída, me despedi dos dois irmãos irlandeses, pois a filha de Ralf iria se casar e eles teriam que voltar para Irlanda. Trocamos e-mails e fotos.
Seguimos eu, Karen, Rasmus e dois figuras da República Tcheca, Mira e Rarder (lê-se Rárdêc), que leva um violino em sua mochila.
Em Logroño, visitei a igreja de Santiago, que na porta tem uma gigantesca estátua de Santiago Mata Moros. Maravilha! No interior, os vitrais apresentam a cruz de Santiago, marca do caminho, e também cruzes templárias. Me sentei numa cadeira, numa área meio isolada, e senti que já havia sentado ali antes...
Chegamos em Navarrete, eu e Karen, e encontramos Katrin sentada no bar. Disse que o albergue municipal estava lotado. O outro albergue estava muito caro. Decidimos dormir na rua. Minha primeira noite de dorme-sujo no Caminho. Minha "cama", uma pedra que sustentava uns arcos, tinha um degrau que ficava exatamente no meio do fêmur... foi uma noite mal dormida, mas uma experiência incrível.
Total percorrido hoje: 23km
Seguimos eu, Karen, Rasmus e dois figuras da República Tcheca, Mira e Rarder (lê-se Rárdêc), que leva um violino em sua mochila.
Em Logroño, visitei a igreja de Santiago, que na porta tem uma gigantesca estátua de Santiago Mata Moros. Maravilha! No interior, os vitrais apresentam a cruz de Santiago, marca do caminho, e também cruzes templárias. Me sentei numa cadeira, numa área meio isolada, e senti que já havia sentado ali antes...
Chegamos em Navarrete, eu e Karen, e encontramos Katrin sentada no bar. Disse que o albergue municipal estava lotado. O outro albergue estava muito caro. Decidimos dormir na rua. Minha primeira noite de dorme-sujo no Caminho. Minha "cama", uma pedra que sustentava uns arcos, tinha um degrau que ficava exatamente no meio do fêmur... foi uma noite mal dormida, mas uma experiência incrível.
Total percorrido hoje: 23km
26/05 - Los Arcos até Viana
Comecei a andar, e uma meia hora de caminhada depois comecei a sentir fortes dores no meu tornozelo direito. Fiz um teste: troquei a bota pela papete, e comecei a andar muito bem. Acho que vou mudar de calçado de agora em diante.
Em Sanson, encontrei 2 irmãos irlandeses, Ralf e Uinsuinn, lê-se ânchín, que devem ter pelo menos uns 70 anos. Umas figuras. Uinsuinn fala 4 línguas ao mesmo tempo, me chama de fratellino, e me dá um abraço. Na mesma parada, encontrei Fernando, um brasileiro que iria andar até Burgos. Fui com ele até Viana.
O albergue de Viana é bem grande, e em cada quarto tem 6 camas, sendo 3 em 3 andares... Fiquei no último andar. É fácil subir... o problema é descer.
Encontrei uma galera no albergue, e fizemos um jantar coletivo. É bem mais barato que o menu do peregrino. Depois do jantar, ficamos tocando violão. Eu, Marcelo, Karen, de Liverpool, Katrin, Alemanha, e Rasmus, um dinamarquês que trouxe um mini-violão consigo. Durante o "lual", em pleno sol da Espanha, ganhei de Rasmus um kazzoo, um instrumento de sopro muito louco, que disseram ter sido feito para mim. 22h00. O sol se põe na Espanha, e a porta do albergue se fecha. Temos que dormir.
Total percorrido hoje: 19km
Em Sanson, encontrei 2 irmãos irlandeses, Ralf e Uinsuinn, lê-se ânchín, que devem ter pelo menos uns 70 anos. Umas figuras. Uinsuinn fala 4 línguas ao mesmo tempo, me chama de fratellino, e me dá um abraço. Na mesma parada, encontrei Fernando, um brasileiro que iria andar até Burgos. Fui com ele até Viana.
O albergue de Viana é bem grande, e em cada quarto tem 6 camas, sendo 3 em 3 andares... Fiquei no último andar. É fácil subir... o problema é descer.
Encontrei uma galera no albergue, e fizemos um jantar coletivo. É bem mais barato que o menu do peregrino. Depois do jantar, ficamos tocando violão. Eu, Marcelo, Karen, de Liverpool, Katrin, Alemanha, e Rasmus, um dinamarquês que trouxe um mini-violão consigo. Durante o "lual", em pleno sol da Espanha, ganhei de Rasmus um kazzoo, um instrumento de sopro muito louco, que disseram ter sido feito para mim. 22h00. O sol se põe na Espanha, e a porta do albergue se fecha. Temos que dormir.
Total percorrido hoje: 19km
25/05 - Ayegui até Los Arcos
Acordei ao som das 4 Estações de Vivaldi, que ecoavam no ginásio. Demorei um pouco para sair, pois cuidei das bolhas que apareceram. Nada grave. Apenas coloquei um band-aid em cada uma com tintura de guaçatonga que minha mãe me deu. Esse troço faz milagres! No dia seguinte, nada de bolhas!
08h20. Parei na fonte de vinho e água, mas só abriria às 10h30. Consegui, abrindo e fechando a torneira, uns 4 goles... o jeitinho brasileiro faz milagres nestas horas... hehehe
O trecho entre Villamayor de Monjardim até Los Arcos é praticamente um deserto verde: 11km de estrada de terra cercados por infinitos campos de feno. Com o sol forte, e sem sombra, é quase um inferno...
Cheguei a Los Arcos 15h30. Lavei roupa e fui jantar.
Total percorrido hoje: 20km
08h20. Parei na fonte de vinho e água, mas só abriria às 10h30. Consegui, abrindo e fechando a torneira, uns 4 goles... o jeitinho brasileiro faz milagres nestas horas... hehehe
O trecho entre Villamayor de Monjardim até Los Arcos é praticamente um deserto verde: 11km de estrada de terra cercados por infinitos campos de feno. Com o sol forte, e sem sombra, é quase um inferno...
Cheguei a Los Arcos 15h30. Lavei roupa e fui jantar.
Total percorrido hoje: 20km
sábado, junho 3
24/05 - Puente la Reina até Ayegui
Estava fazendo as contas, e ontem completei meus primeiros 100km! Faltam uns 700, ainda... hehehe
Andei sozinho até Mañeru, aonde encontrei Katrin, uma alemã que conheci em Zubiri, amiga do holandês Robert e do Marcelo (BR). Chegamos em Estella, o target do dia, mas o albergue estava lotado. Tivemos que andar até a próxima cidade, Ayegui, 2km pra frente...
O albergue de Ayegui é dentro de um ginásio de pelota basca... divertido.
Uma coisa que lembrei da caminhada de hoje: ao terminar de subir uma montanha, vi, lá para trás, o Perdón, que havia cruzado ontem. É muito louco perceber que estou passando pelos lugares, e deixando muitos quilômetros para trás.
Total percorrido hoje: 23,5km
Andei sozinho até Mañeru, aonde encontrei Katrin, uma alemã que conheci em Zubiri, amiga do holandês Robert e do Marcelo (BR). Chegamos em Estella, o target do dia, mas o albergue estava lotado. Tivemos que andar até a próxima cidade, Ayegui, 2km pra frente...
O albergue de Ayegui é dentro de um ginásio de pelota basca... divertido.
Uma coisa que lembrei da caminhada de hoje: ao terminar de subir uma montanha, vi, lá para trás, o Perdón, que havia cruzado ontem. É muito louco perceber que estou passando pelos lugares, e deixando muitos quilômetros para trás.
Total percorrido hoje: 23,5km
23/05 - Cizur Menor até Puente la Reina
Saí de Cizur acompanhado de Fabian, uma suíça que conheci em Roncesvalles. Uma figura: baixinha, anda com uma bengalinha no melhor estilo "mestre Yoda" e, além do francês, fala espanhol, inglês, português e russo, que considera sua língua preferida.
A subida do Perdón - uma pequena lembrança de como foi duro cruzar os Pirineus. Lá no topo, um frio absurdo, e uma descida mais absurda, cheia de pedras... paguei mais pecados, e pedi muitos perdões... hehehe
Encontrei em Urtega Dean, o inglês que conheci ontem, e fomos conhecer Eunate, uma igreja românica construída no séc. XII, aonde existem vários mistérios ao seu redor, envolvendo os cavaleiros templários, e algumas lendas.
Cheguei a Puente la Reina e fui... lavar roupa. Paseei pela cidade, conheci a igreja românica, e quando voltei, Dean havia pedido para a hospitaleira se poderia ficar mais um dia por lá, pois estava com o tornozelo fudido... mais uma despedida no caminho. Isso é estranho... todos vão ao mesmo lugar, mas muitas pessoas vêm e vão, passam sem dizer oi, ou dizem oi e se tornam amigos para sempre, até a separação. As amizades e irmandades são muito intensas no Caminho.
Total percorrido hoje: 20km
A subida do Perdón - uma pequena lembrança de como foi duro cruzar os Pirineus. Lá no topo, um frio absurdo, e uma descida mais absurda, cheia de pedras... paguei mais pecados, e pedi muitos perdões... hehehe
Encontrei em Urtega Dean, o inglês que conheci ontem, e fomos conhecer Eunate, uma igreja românica construída no séc. XII, aonde existem vários mistérios ao seu redor, envolvendo os cavaleiros templários, e algumas lendas.
Cheguei a Puente la Reina e fui... lavar roupa. Paseei pela cidade, conheci a igreja românica, e quando voltei, Dean havia pedido para a hospitaleira se poderia ficar mais um dia por lá, pois estava com o tornozelo fudido... mais uma despedida no caminho. Isso é estranho... todos vão ao mesmo lugar, mas muitas pessoas vêm e vão, passam sem dizer oi, ou dizem oi e se tornam amigos para sempre, até a separação. As amizades e irmandades são muito intensas no Caminho.
Total percorrido hoje: 20km
22/05 - Arre até Cizur Menor
Um dia um pouco light de caminhada. Apenas 11km. Saí com Daniel, e nos separamos na entrada de Pamplona, pois eu iria resolver uns pepinos.
PAMPLONA! Minha casa em alguma vida passada... olhava cada coisa como se me lembrasse de cada detalhe, cada pedra, cada calle (lê-se cáie, rua). Na entrada do museu, um grupo grande de turistas belgas me viram, e pediram felizes para tirar fotos comigo... hehehe. Um peregrino! Eu me senti um santo... Eles agradeceram, e um dos velhos me deu €5,00 de agradecimento... hehehe... vale a pena ser peregrino...
Postei 3kg para Santiago. Minha mochila está beeeeeeeem mais leve, agora. No shopping, comprei um saco de dormir de 600g, MiniLight... e me senti como um ET, pois estava na parte nova da cidade, carregando toda a minha tralha e o meu cajado - que peguei na floresta em Roncesvalles, não me lembro se já havia falado sobre ele -, que tem uns 2m de altura...
Andei mais uns 4km e cheguei em Cizur Menor. Reencontrei o Marcelo, um brasileiro de Porto Alegre, e conheci 3 irlandeses e 1 inglês. Acabamos com a cerveja - San Miguel, muuuuito boa - da máquina do albergue...
Total percorrido hoje: 11km
PAMPLONA! Minha casa em alguma vida passada... olhava cada coisa como se me lembrasse de cada detalhe, cada pedra, cada calle (lê-se cáie, rua). Na entrada do museu, um grupo grande de turistas belgas me viram, e pediram felizes para tirar fotos comigo... hehehe. Um peregrino! Eu me senti um santo... Eles agradeceram, e um dos velhos me deu €5,00 de agradecimento... hehehe... vale a pena ser peregrino...
Postei 3kg para Santiago. Minha mochila está beeeeeeeem mais leve, agora. No shopping, comprei um saco de dormir de 600g, MiniLight... e me senti como um ET, pois estava na parte nova da cidade, carregando toda a minha tralha e o meu cajado - que peguei na floresta em Roncesvalles, não me lembro se já havia falado sobre ele -, que tem uns 2m de altura...
Andei mais uns 4km e cheguei em Cizur Menor. Reencontrei o Marcelo, um brasileiro de Porto Alegre, e conheci 3 irlandeses e 1 inglês. Acabamos com a cerveja - San Miguel, muuuuito boa - da máquina do albergue...
Total percorrido hoje: 11km
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