segunda-feira, julho 31

Algumas Fotos Soltas #8

19/05/06
Pirineus. Contornando um abismo.

Mosquito
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CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

Algumas Fotos Soltas #7

19/05/06
Pirineus. E um estranho mosquito no meu chapéu.

Mosquito
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CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

quinta-feira, julho 27

Algumas Fotos Soltas #6

09/06/06
Catedral de León, à noite.

Catedral
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CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

Algumas Fotos Soltas #5

07/06/06
Este é o famoso pôr-do-sol em Bercianos del Real Camino.
Os moradores dizem que é o mais bonito em todo o Caminho de Santiago. Eu não.

Pôr-do-sol
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CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

Algumas Fotos Soltas #4

04/06/06
Descanso no topo da Cuesta del Mostelares, depois de Castrojeriz.
Estas tornozeleiras eu comprei em Burgos.
Os dedos dos pés estão brancos por causa do Hipoglós, receita da podóloga para evitar atrito, bolhas e umidade.
E, no canto direito, abaixo, é possível ver uma parte da ponta do meu cajado, ainda "ornamentada" com folhagens. Foi isto que provavelmente causou ojeriza aos moradores de Burgos.

Pés doridos
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CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

terça-feira, julho 25

Algumas Fotos Soltas #3

25/05/06
Minhas meias secando no albergue de Los Arcos.

Meias Molhadas...
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CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

Algumas Fotos Soltas #2

25/05/06
Parada merecida no gramado de uma casa, vendo o que já andei.
No alto da montanha, um castelo. Abaixo, Villamayor de Monjardin.

Descanso...
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CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

Algumas Fotos Soltas #1

Aguardo ainda a revelação das minhas fotos "analógicas". Estou pesquisando preços, afinal, são mais de 800. Por enquanto, postarei alguns "aperitivos", feitos com a digital.

FOTO SOLTA #1
21/05/06
Estrada de terra entre Zubiri e Larrasoaña

Pegadas...
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CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

sexta-feira, julho 21

O Caminho, Dia a Dia

17/05/06 - A Saída
18/05/06 - Conexões

19/05/06 - Saint Jean Pied-de-Port até Roncesvalles
20/05/06 - Roncesvalles até Zubiri
21/05/06 - Zubiri até Arre
22/05/06 - Arre até Cizur Menor
23/05/06 - Cizur Menor até Puente la Reina
24/05/06 - Puente la Reina até Ayegui
25/05/06 - Ayegui até Los Arcos
26/05/06 - Los Arcos até Viana
27/05/06 - Viana até Navarrete
28/05/06 - Navarrete até Azofra
29/05/06 - Azofra até Redecilla del Camino
30/05/06 - Redecilla del Camino até Villafranca Montes de Oca
31/05/06 - Villafranca Montes de Oca até San Juan de Ortega

01/06/06 - San Juan de Ortega até Burgos
02/06/06 - Burgos até Arroyo San Bol
03/06/06 - Arroyo San Bol até Castrojeriz
04/06/06 - Castrojeriz até Población de Campos
05/06/06 - Población de Campos até Carrión de los Condes
06/06/06 - Carrión de los Condes até Terradillos de los Templarios
07/06/06 - Terradillos de los Templarios até Bercianos del Real Camino
08/06/06 - Bercianos del Real Camino até Mansilla de las Mulas
09/06/06 - Mansilla de las Mulas até León
10/06/06 - León (dia de descanso)
11/06/06 - León até San Martin del Camino
12/06/06 - San Martin del Camino até Astorga
13/06/06 - Astorga até Rabanal del Camino
14/06/06 - Rabanal del Camino até Molinaseca
15/06/06 - Molinaseca até Cacabelos
16/06/06 - Cacabelos até Vega de Valcarce
17/06/06 - Vega de Valcarce até Fonfría
18/06/06 - Fonfría até Monasterio de Samos
19/06/06 - Monasterio de Samos até Barbadelo
20/06/06 - Barbadelo até Ventas de Narón
21/06/06 - Ventas de Narón até Pontecampaña
22/06/06 - Pontecampaña até Ribadiso de Baixo
23/06/06 - Ribadiso de Baixo até Santa Irene
24/06/06 - Santa Irene até Santiago de Compostela
25/06/06 - Santiago de Compostela (dia de descanso)

26/06/06 - Santiago de Compostela até Negreira
27/06/06 - Negreira até Olveiroa
28/06/06 - Olveiroa até Corcubión
29/06/06 - Corcubión até Finisterre
30/06/06 - Finisterre até Santiago de Compostela

01/07/06 - Santiago de Compostela (dia de descanso)
02/07/06 - Santiago de Compostela até Barcelona

Acabou mas não Terminou

quinta-feira, julho 20

Acabou mas não terminou!

Depois de muito atraso, finalmente atualizei por completo meu diário de viagem.

O que vocês acompanharam nesta página, durante estes dois meses, é um resumo de tudo o que vi e aprendi com o Caminho de Santiago. A versão completa já está em desenvolvimento. Ela se transformará num livro. E assim que eu tiver novidades, avisarei a todos.

E o Peregrino On-line não termina aqui! Este será um canal aberto para eu publicar dicas, fotos, e respostas às dúvidas dos futuros peregrinos. Conto com a colaboração de vocês para manter vivo este blog.

Abraços!

02/07 - Santiago de Compostela até Barcelona

Rodoviária. Estou esperando a cabine de venda de passagens abrir, tomando um café. Nisto, não acredito no que vejo. Javi, Gemma e Peter! Javi e Gemma resolveram dormir na praia, e eu não conseguira me despedir deles em Finisterre. Peter esperava o ônibus para ir ao aeroporto, também, e me avisou que a venda do bilhete era direto com o motorista. Se eu não tivesse os encontrado, poderia perder meu avião.

Os encontros e reencontros do Caminho perduram. Esta sincronia é uma das coisas mais mágicas que existem por aqui. E o Caminho continuará para sempre dentro de nós, nos momentos de aperto, de dor, de desespero, para nos mostrar que somos capazes de superar qualquer obstáculo, qualquer pedra solta, qualquer desafio.



Barcelona! Agora me sinto realmente um turista.

***** FIM *****

30/06 - Finisterre até Santiago de Compostela

Fui acordado pelo hospitaleiro. Eu era o último a acordar, e eles estavam me esperando para fechar o albergue. Fui tomar café num bar, e bati papo com 2 brasileiros que conhecera naquele instante, e fiquei sabendo da história de um garoto carioca que fez o Caminho, só que não ligou para dar notícias em casa. Todos os brasileiros no Caminho estavam de prontidão, todos os grupos de internet sobre o Caminho estavam à postos. Não sei se encontraram o idiota. Porra, não custa ligar pra dar notícias, né? Se fosse um fim de semana, tudo bem, mas um mês e pouco, num outro país...

Peter descobriu aonde estava Karin. Há cinco dias de cama, tomando anti-inflamatórios. Não curtiu Finisterre. Ainda. Me despedi dela, e fui pegar meu ônibus. Ao olhar pela janela, avistei Peter e Karin fazendo tchau. Ela transformou seu stick em bengalinha, e foi se arrastando para se despedir. Este é o espírito dos amigos do Caminho. Eu teria feito o mesmo.

Depois de mais de 40 dias, eu estava dentro de um ônibus. Isto é horrível. Mais horrível ainda é realizar praticamente o mesmo trajeto que levei quatro dias, em duas horas e meia.

Santiago de Compostela, novamente. Tive que deixar a praia mais cedo porque hoje é sexta-feira, e amanhã e domingo o Correio estará fechado. Tenho que pegar as coisas que mandei de Pamplona e Astorga, mais ou menos uns 5kg. Me dei de presente um hostal. Afinal, terminou a minha peregrinação, e eu não posso mais dormir em albergues de peregrinos.

29/06 - Corcubión até Finisterre

Acordamos para nosso último dia como peregrinos. Javi e Gemma seguiram na frente, eu e Peter fomos em seguida. Mais subidas em montanhas, mais descidas cheias de pedras, cuidado redobrado.

Novamente a vista do mar. Andamos na areia, e paramos num bar de hotel à beira-mar para tomarmos café. Os ricos freqüentadores do hotel nos olhavam de rabo de olho, não entendendo as mochilas, os cajados, as botas, as roupas encardidas e suadas. E nós não demos a mínima.

Continuamos. Falta pouco! Gemma abraçou Javi e voltou a chorar. Deixamos os dois, andamos mais um pouco e paramos num bar que devia estar a 1,5km do albergue de Finisterre. Ali bebemos, rimos, almoçamos, bebemos mais um pouco, reencontramos Maurício, bebemos mais, reencontramos uma garota japonesa que vimos um louco com cabelo azul raspando sua cabeça lá n'O Cebreiro, rimos, bridamos, caímos n'água, voltamos para beber e rir mais um pouco, e levantamos acampamento.

Chegamos ao albergue, ganhamos nossas Finisterranas - o diploma por termos feito o caminho a pé -, tomamos um banho, separamos nossas roupas "especiais" num saquinho e começamos a andar até o nosso destino. Mais 3km. O farol do Cabo Fisterra, o Cabo da Morte, o fim da Terra. Vimos o pôr-do-sol dali. E ali, nas pedras, usamos o chapéu do Dani como um filtro. Cada um colocou-o na cabeça e transferiu tudo o que queria queimar da sua antiga vida, para renascer numa vida nova. Pensamos também em todos os que não estavam conosco. De uma grande turma, e de centenas de conhecidos, somente quatro estavam ali, naquele momento. E queimamos nossas roupas, e o chapéu do Dani, e a "pedra do sapato" do Domenico, e muitas outras coisas. Renascemos.

Voltamos, e encontramos Eduardo e os outros, e comemos parrillada, o churrasco deles, e brindamos, e bebemos vinho, e fomos dormir.

Total percorrido hoje: 13,5km

28/06 - Olveiroa até Corcubión

- You smell like a cow!

Este foi o "bom dia" de Peter para mim. Chão de uma estrebaria, com moscas pousadas em todos os lugares, e com um cheiro horrível no ar daria tudo para eu acordar de mal humor, mas a frase de Peter me fez gargalhar.

Arrumamos bem lentamente nossas coisas. Javi e Peter saíram na frente, e eu fiquei consolando Gemma, que começara a chorar. É, estava realmente terminando. Amanhã chegaríamos a Finisterre, o fim da Terra, o fim da viagem, a volta para casa. Ninguém quer voltar para casa, nem terminar o caminho. Esta é a coisa mais difícil que enfrentamos.

Encontramos Javi, Peter e Alvaro, um espanhol que conhecemos em Pontecampaña, num bar em Hospital, e seguimos juntos. Peter e Alvaro aceleraram o passo, deixando-nos para trás. Caí pela segunda vez na minha Via Crucis: desta vez, fui quase com a cara no chão. Bati o joelho, quebrei mais uma ponta do cajado e torci o pé direito, o mais zoado. Gemma me ajudou a tirar a bota e a meia, e Javi me fez uma massagem. Doeu pra cacete, mas adiantou. Voltei a andar normalmente, como se "quase nada" tivesse acontecido.

A uns 6km do nosso destino do dia, no início de uma descida de uma íngreme montanha, recebemos o presente que merecíamos, depois de quase 40 dias de caminhada: a vista de um maravilhoso horizonte azul, o mar. Daqui, à extrema direita, avistamos o Cabo Fisterra, que será o nosso ponto final, amanhã. Mais choro de Gemma, e eu também entrei na dança. Descemos, subimos e descemos mais umas montanhas, e chegamos em Cee: playa! Andamos mais 1km e paramos num bar em Corcubión e, frente ao mar, tomamos cervejas e comemos frutos do mar. Reencontramos Marta, que havia andado mais rápido e chegara ontem em Finisterre. Ela voltou para trás para se despedir, pois amanhã cedo retornará à Zaragoza.

Dormimos na grama, ao lado do albergue. Eduardo nos emprestou a lona de sua barraca para forrarmos o chão.

Eduardo é argentino. Saiu de sua casa, em Buenos Aires, com dois cavalos e uma aventura na cabeça. Subiu toda a América Latina, atravessou os Estados Unidos, pegou um navio e chegou na Europa com um cavalo a menos, que morrera no percurso. Comprou outro cavalo e começou o Caminho de Santiago. Conheceu uma finlandesa que começou a acompanhá-lo. Nos encontramos pela primeira vez uns dois dias antes de chegarmos a Santiago. Depois de quatro longos anos montado num cavalo, estava chegando a Finisterre. Mas ali não será o fim de sua aventura. De Finisterre seguirá para Portugal, até lá embaixo. Depois Roma, depois Jerusalém, e lá pegará o caminho de volta para casa. Entrará na Argentina pelo sul do Brasil. Mais quatro anos. Oito, fora de casa. Quer escrever um livro, mas sugeri que escreva mais de um, afinal, oito anos é muita história para um volume só. Eu só consigo pensar numa coisa: como será voltar para casa, depois de oito anos afastado, realizando algo tão doido? Não sei se eu conseguiria me adaptar...

Total percorrido hoje: 19,5km

27/06 - Negreira até Olveiroa

Fui um dos últimos a acordar. Quando entrei no albergue, encontrei, quase saindo, um simpático casal de franceses que eu não via há uns 15 dias, e nos conhecíamos desde Burgos. Pena que não lembrava seus nomes. Nos abraçamos, eles se foram, e não nos vimos mais.

Quase 9km depois encontrei Javi e Gemma em A Pena. Comemos, e eu saí antes dos dois, pois queria adiantar minha caminhada do dia para ver o jogo do Brasil em algum bar mais próximo da meta do dia, um longo dia.

Parei em Maroñas, uns 13km antes de Olveiroa, num bar de beira de estrada, às 17h15. Vazio. Eu, a bandeira da sorte no colo, e uma bela TV no Brasil X Gana. Eu realmente andei bem rápido, porque Javi e Gemma me encontraram no bar quando estava começando o 2º tempo. Eles comeram algo e partiram, pois às 21h00 começaria o Espanha X França, e Javi não queria perdê-lo. Eu disse que esperaria acabar este jogo para alcançá-los.

Cheguei cansado, em Olveiroa, às 21h50. Quase anoitecera na estrada. Estava apreensivo com isso, pois não havia a mínima iluminação, e os poucos carros que passavam dirigiam como loucos. O albergue estava vazio. Todos estavam no único bar do pueblo, vendo o jogo. Quando cheguei lá, foi uma festa. Todos vieram me abraçar. Parecia que eu estava perdido há 10 anos. Este é o espírito do Caminho.

A França eliminou a Espanha, e fomos dormir.

Albergue lotado. Me sobrou um colchão dentro de uma estrebaria desativada. Não sei se realmente estava desativada, porque aquilo ali fedia. Lá dormimos eu, Peter, Eduardo, um argentino que contarei sua história mais tarde, um francês com cara de doido, que era uma mistura de Ian Gillan com a bruxa do mar, e outra pessoa que não identifiquei, pois já estava dormindo quando cheguei ali.

Total percorrido hoje: 33km

26/06 - Santiago de Compostela até Negreira

Choro: dia três. Mais despedidas. Eu, Erin, Peter e Pipa acompanhamos Domenico até a rodoviária. Ele voltará hoje para a Itália. Depois, fomos até a parte velha da cidade. Eu fui atrás de um banco, Peter iniciou sua caminhada do dia, e eu me despedi de Erin e Pipa, que iriam voltar pra casa, também.

Parei na frente da Catedral, ao lado da concha em baixo-relevo que representa o marco zero do Caminho de Santiago. Foi ali que comecei a preparar meus pés para a minha nova e última etapa: Finisterre. Muitos peregrinos e turistas vieram conversar comigo, perguntando se eu havia chegado hoje aqui, daonde iniciei a peregrinação, estas coisas. Encontrei Maurício, e conheci por intermédio dele Bebel, uma carioca qua acabara de chegar ali.

Lixo - Conversamos um pouco sobre o lixo no Caminho, a quantidade absurda de papel higiênico deixada pelas moçoilas nos arbustos, e sobre um filho da puta do sul que pixou em praticamente todo o trajeto - asfalto, placas de sinalização, postes - coisas como "Brasil tri legal" e "Michele a gata do caminho". O que leva um imbecil a fazer coisas deste tipo? Se ele pensa que fez um bem aos peregrinos brasileiros, está deveras enganado! E se alguém souber quem foi, que peça para que ele leia isto aqui, e venha tirar satisfações comigo. Quero publicar o NOME deste filho da puta aqui.

A Oficina do Peregrino não te fala nada a respeito do caminho até Finisterre, pois para eles a peregrinação termina em Santiago. Indicam que você vá até a Oficina de Turismo, que é na mesma rua, uns 400m abaixo. Lá, te passam um mapa e indicam o trajeto até a estrada. Estrada? Perguntei se havia setas amarelas ou outro tipo de indicação, e a moça disse que não, que não havia nada além das placas normais da estrada.

Comecei a andar, e ao perguntar a uma mulher para onde eu devereia seguir para chegar na estrada, numa bifurcação tripla na frente de uma grande praça, ela disse para eu seguir o muro de pedras, pois ali encontraria o caminho. SURPRESA: Nesta praça existe um tótem com a concha, a marcação de que faltam 89km para Finisterre, e uma flecha amarela! Os funcionários da Oficina de Turismo não sabem porra nenhuma!

Segui as indicações, e senti meus pés, e senti meus ombros, e senti aquela familiar adaga no meio da coluna. Eu estava de volta ao Caminho e à minha penitência!

Cheguei a Negreira e encontrei Peter, Javi, Gemma e Maurício num bar. O albergue estava lotado, e dormiríamos no gramado ou aonde desse. Deu a louca no Maurício, e ele comprou comida e vinho para cozinhar para a galera. Um belo jantar.

Dormi no chão da varanda. Pelo menos ali eu estaria protegido se chovesse, o que estava ameaçando mas não vingou.

Total percorrido hoje: 21km

sábado, julho 15

25/06 - Santiago de Compostela

Choro: dia dois. Dia de encontros. Dia de reencontros. Dia de despedidas.

10h30 às 22h00 - Dani pegou o avião de volta pra casa, mas não tinha dinheiro suficiente para transportar Pipa, que ficará agora com Erin. Rien, o holandês que eu via desde Saint Jean Pied-de-Port, se despediu com lágrimas nos olhos. Robert, o outro holandês, do "fellowship of the Camino", acabara de voltar de Finisterre, com um brilho diferente nos olhos, e uma barba mais densa. Norma, do Rio, não parava de chorar ao se despedir de todos. Nick e sua namorada, que eu via desde Roncesvalles, me deram boa sorte para a viagem do dia seguinte. Uma das Martas voltará no dia seguinte para Zaragoza. Muitos outros, que não lembro os nomes, revi e me despedi. Muitos outros, que eu também gostaria de reencontrar, deixei apenas em pensamento meus abraços. Karin terá que ir de ônibus à Finisterre, pois levou uma picada que parece ser de aranha na perna, que está inchada com uma infecção. Maurício, do sul do Brasil, mora há 14 anos em Portugal, e fez o Caminho de bicicleta, de forma bem diferente dos ciclistas normais. Ele não pegou nenhuma estrada, seguiu todas as flechas amarelas, e recolheu lixo. Isso mesmo. De Saint Jean Pied-de-Port até Portomarín, ele juntou 80 sacos de lixo. Latas, pets, embalagens de qualquer espécie, bitucas e caixinhas de cigarro, papel higiênico, e outros podres. Virou lenda no Caminho. E fez algo que todos deveriam fazer. E deu exemplo. E ganhou os meus parabéns.

12h00: Missa dos Peregrinos - Ouvir que no dia anterior, chegara em Santiago um brasileiro que partira de Saint Jean Pied-de-Port foi muito emocionante para mim. Era eu! A Catedral de Santiago é gigantescamente absurda. Uma maravilha ornada de mármore, madeira e ouro. E esperança. E uma energia fantástica. E o bota-fumero é a coisa mais hipnótica e maviosa do mundo. Ver um turíbulo de 1 metro e meio balançando como um pêndulo por toda a Catedral, do chão ao teto, é inenarrável. Por motivos meus, que não tenho a mínima certeza do porquê, não fotografei o interior da Catedral. Deixei isto para os turistas, que eram muitos, ali.

24/06 - Santa Irene até Santiago de Compostela

Acordamos e começamos a separar nossas roupas. Finalmente, meias e cuecas limpas!

Começamos a andar eu, Pipa, Dani, Erin, Domenico, as Martas e Peter. Andamos em silêncio, cada um fechado em seu universo, cada um tentando descobrir o por quê de realizar o Caminho e o que aconteceria na volta para casa, cada um triste em si porque tudo acaba, um dia.

Cada um andou num ritmo, lentos correram, rápidos andaram devagar, mas conversávamos por celular para descobrir a quantos quilômetros cada um estava de Santiago. Peter sumiu, na frente. Domenico, Dani, Erin e Pipa aguardaram os retardatários a 1km da Catedral. Encontramos Leen e Kate e nos despedimos delas, pois estavam indo para La Coruña, playa.

Juntamos o grupo, e começamos a andar. Este deve ter sido o quilômetro mais lento de nossas vidas. Numa praça, avistamos as torres da lateral esquerda da Catedral. Abraços e choros nos tomaram uns 10 minutos. É uma sensação inexplicável: alegria, tristeza, desespero, medo, coragem, alívio, amor, tudo expelido em forma de lágrimas e gargalhadas. Parece um sonho. Parece que estamos flutuando, que não existe mochila pesada, nem dores nos pés...

Andamos mais um pouco e chegamos na frente da Catedral. Mais choros e abraços e gargalhadas. Sentamos em roda na praça, e ficamos admirando a arquitetura e tudo o que aquilo representava por umas 2 horas. Peter, Javi, Gemma e Dário nos encontraram.

Achamos um lugar para ficar, tomamos banho e nos reunimos na Oficina do Peregrino, para pegar nossas Compostelanas, nosso diploma de peregrinos. Depois, jantar, bar e fiesta! Dançamos até o amanhecer. Cumprimos nossas metas. Para alguns, como eu, a primeira parte da meta. Amanhã, descanso. Dia seguinte, mais estrada em direção à Finisterre.

Total percorrido hoje: 25km

23/06 - Ribadiso de Baixo até Santa Irene

Acordamos tarde. Está cada vez mais difícil começar a andar. Ninguém quer chegar em Santiago...

Paramos para tomar café, e depois todos seguiram na frente, deixando eu e Domenico para trás. Andamos mais devagar, e iniciamos uma conversa-exorcismo. Falamos sobre todos os nossos problemas da vida, do trabalho, do amor, da família, dos amigos, das tentativas, dos fracassos, dos erros, dos defeitos, tudo de ruim que vinha às nossas cabeças, a fim de deixar na estrada tudo o que nos fizesse mal. Nisto, paramos num trecho da floresta que parecia um altar, com grandes pedras e árvores dispostas como se tivessem vida. Foi ali que exorcisamos nossos males. Ajoelhei na mata, agradeci a Deus pela leveza conquistada, abracei árvores, encontrei o meu lugar quando decidir virar uma árvore, essas coisas de doido...

Encontramos Dani e Erin no albergue. Eles pegaram um táxi para nos alcançar, e traziam uma nova amiga: Pipa. Eles pegaram um dos filhotes que haviam nos oferecido ontem. Javi, Gemma e Karin decidiram andar um pouco mais. Nós ficamos por ali, mesmo.

Fizemos uma "vaquinha", e juntamos as moedas suficientes para lavar e secar a roupa do grupo. Finalmente! Saímos todos para jantar sem meias, hehehe. Depois do jantar, paramos para conversar com uma família gallega. Era noite de São João, e eles estavam reunidos em frente a uma fogueira. Ficamos uma meia hora, ali. É muito interessante conversar com moradores das cidades pequenas, e desfrutar da cultura, simpatia e simplicidade que eles oferecem com seus sorrisos.

Pegamos a estrada de volta no escuro, e fomos dormir. Amanhã é o Grande Dia. Amanhã chegaremos em Santiago de Compostela. Dá medo. Dá alegria. Dá tristeza. Dá ansiedade. Dá uma mistura de todos os sentimentos...

Total percorrido hoje: 19km

segunda-feira, julho 10

22/06 - Pontecampaña até Ribadiso de Baixo

Tive que usar uma bermuda de lycra como cueca, pois não tenho mais roupas limpas. Aliás, ninguém da turma tem mais roupas limpas. Precisamos urgentemente de uma lavadora/ secadora...

Hoje é um dia empolgado para mim e Domenico: jogo do Brasil e jogo da Itália. Saímos na frente de todos, hoje, e andamos muito rápido. Só uma Copa do Mundo para fazer este milagre.

Chegamos eu, Domenico e Peter, em Melide, do meio do 1º tempo de Itália X Rep. Tcheca. Como são 5 horas de diferença de fuso, aqui o jogo começou às 16h00. Paramos num bar e aguardamos os outros chegarem.

Na saída da cidade, um morador nos ofereceu um filhote de cachorro. A tentação foi grande, mas não aceitamos. O que faríamos com ele quando acabasse a viagem? Andei rápido, pois agora era a minha vez de chegar a tempo de ver o jogo. Passei todos, e superei ainda mais a dor. Quase chegando a Ribadiso de Baixo, a Jô me manda um SMS dizendo que o Japão havia feito um gol. Fiquei puto! Andei mais rápido ainda, e encontrei um bar. Havia 3 brasileiros por lá, um da Moóca, SP, um de Novo Hamburgo e um de Brasília. Não lembro seus nomes. Tirei minha bandeira da sorte da mala, e logo depois o Brasil empatou. Os outros chegaram quase no começo do 2º tempo. É, andei rápido mesmo!

Como chegamos tarde no albergue, não havia mais vagas. Karin, Javi e Gemma dormiram na grama. Eu, Domenico, Peter e as Martas preferimos dormir numa área coberta. Dormir num chão de pedras é desconfortável, mas já estou me acostumando com essa vida...

Total percorrido hoje: 22km

21/06 - Ventas de Narón até Pontecampaña

Ressaca. 11h00, e estávamos ainda no bar do albergue, tomando café. Chegaram de outros lugares, Rien, as Martas, Sharyar e sua mãe, e o trio Bernardette, a alemã, a americana e a holandesa que não lembro dos nomes. Como nós, elas também peregrinavam de bar em bar. Esta fama nos rendeu a patente de "baregrinos". Elas perguntaram para nós daonde partimos hoje, e Peter respondeu: de nossas camas! Todos riram.

Numa parte do caminho, as Martas seguiram reto e não viram a flecha amarela. Javi largou a mochila e saiu correndo para alcançá-las. Enquanto isso, eu e Domenico, com as mochilas nas costas, começamos a jogar hóquei com uma lata que estava no chão. Quase nos matamos. Os dois mais cansados e quebrados correndo com as mochilas foi a morte. Paramos uns minutos para descansar.

Chegamos quase à noite em Pontecampaña, e dorminos numa casa rural, um dos lugares mais bonitos e bem instalados que dormi até agora. Uma grande casa de pedra, decorada basicamente com madeira. Perfeita!

Total percorrido hoje: 16km

20/06 - Barbadelo até Ventas de Narón

Fomos expulsos do albergue, e terminamos de arrumar nossas coisas na rua.

Chegamos em Portomarín. Que entrada triunfal! Um gigantesco lago azul separa a estrada da cidade, unidas apenas por uma ponte de ferro com 1km de extensão, acho. Por lá, reencontrei Rien e Gemma. Gemma disse que encontrou Rasmus há uns dias, e que ele desistira do Caminho: foi para alguma praia da Espanha, a qual não lembro o nome. Enquanto almoçávamos, chegaram Sharyar e sua mãe, e Dani e Erin.

Resolveram dormir em Portomarín as Martas, Dani e Erin. Eu, Domenico, Javi, Peter, Karin, Gemma e Dario continuamos. Fui conversando com Domenico sobre minha finada banda dos anos 1990, e ele contou da sua, que se reuníra no início de 2006 novamente, depois de 10 anos de separação.

Paramos em Gonzar para reunir o grupo. Depois de meia hora, aparecem os retardatários Peter e Karin, com Leen e Kate. Elas estavam atrás de mim para devolver a grana que emprestei.

Chegamos em Ventas de Narón e ficamos num albergue particular, com ótimas camas e um bar. Não comemos muito bem, e começamos a beber cerveja, e depois vinho. Em um certo momento, nos demos conta de que faltavam menos de 80km para chegarmos em Santiago, isto é, nem 5 dias para o fim. Choramos e bebemos, eu, Domenico, Peter, Karin, Javi e Gemma. Karin foi dormir, e continuamos a beber. É muito estranha a sensação de fim. Uma hora acaba, mas ninguém quer que acabe. Resultado: 9 botellas, lê-se botêias, garrafas, de vinho, e todos bêbados que nem vacas. Dormi abraçado na privada. Sorte que Gemma e Javi ouviram roncos do banheiro, e a porta estava destrancada. Me lavaram o rosto e me puseram na cama.

Total percorrido hoje: 30km

19/06 - Monasterio de Samos até Barbadelo

Acordamos tarde, e seguimos para Sarria. Chegamos durante a siesta, e ficamos por lá até as lojas abrirem novamente. Leen e Kate ficaram por lá, para resolver o problema da grana. Os outros seguiram na frente, e eu e Domenico fomos atrás de uma farmácia. Somos conhecidos como "os lentejas" (lê-se lenterras - um trocadilho: lenteja significa lentilha, mais serve para nos chamar de lentos). Domenico diz que não tem carimbado sua credencial nos albergues: só pega os carimbos das farmácias. Ele é o hipocondríaco da turma.

Chegamos em Barbadelo, e encontramos os outros deitados na grama de uma praça. O albergue estava cheio, e teríamos que dormir na grama. Sentamos para beber num trailer, e o dono bateu um papo com a hospitaleira, que ofereceu a sala do albergue para dormirmos.

Quando eu descia a rua para levar minhas coisas ao albergue, ouvi meu nome e uma voz conhecida, mas antiga. Da única cabine telefônica do pueblo, avistei Katrin, a alemã que se separou de mim e Karen em Nájera, há 20 dias. Ela largou o telefone e correu pra me abraçar. Os reencontros são muitos doidos e inesperados. Me disse que andara com sua mãe por uns 10 dias, que depois seguiu com uma nova turma. Marcelo estava com ela. Me disse também que Robert chegaria amanhã em Santiago - rápido pra cacete. Esta seria a última vez que eu veria Katrin e Marcelo no Caminho.

Demoramos quase uma hora para conseguir pegar no sono. Não parávamos de rir. Éramos oito, dormindo numa sala apertada, sem condições de virar para o lado, ou achar uma posição decente para colocar o braço. Dormimos mal pra caralho. Mas foi uma experiência muito divertida.

Total percorrido hoje: 18km

18/06 - Fonfría até Monasterio de Samos

Fomos os últimos a sair, como sempre. Enquanto tomávamos café, nos alcançaram, de outras cidades, Dani e Erin, Leen e Kate, sua amiga inglesa, e Sharyar e sua mãe, panamenhos muito simpáticos. É a quarta vez que a mãe de Sharyar faz o caminho, e disse que queria realizá-lo com seu filho, pois talvez poderia ser sua última viagem. Sharyar deixou sua esposa e filha no Panamá, e a acompanhou.

Durante o café conhecemos duas Martas, de Zaragoza, que começaram a fazer parte da nossa turma. Saímos todos juntos. Paramos em Triacastela para comprar algo para comer. Leen e Kate não conseguiram tirar dinheiro no banco, pois o caixa estava quebrado. Ligaram para suas casas, e conseguiriam uma remessa de dinheiro só para dia seguinte. Emprestei a elas o suficiente para sobreviverem, e seguimos.

Estávamos sentados numa área de descanso no meio de uma floresta, quando vi que já era 17h00, e em uma hora começaria o jogo do Brasil X Austrália. Faltavam 7km até o Monasterio de Samos. Larguei todos ali e comecei a correr. Nunca andei tão rápido. Esqueci que levava um grande peso nas costas, e até desencanei um pouco da dor nos pés... uma hora, acostumamos.

Cheguei ao Monastério de Samus! No primeiro bar, passava uma tourada. Perguntei aonde poderia ver o jogo, e o cara falou que seria impossível. Fiquei desesperado, e procurei outro bar: tourada. Andei quase 1km e cheguei na frente do monastério, aonde havia o albergue, e o último bar do pueblo. Entrei, e na TV passava a mesma maldita tourada. Como o bar estava vazio, pedi para a dona mudar para o jogo, e consegui ver o 2º tempo inteiro e os dois gols do Brasil.

Compramos umas coisas para comer, e "cenamos" na beira de um rio, eu, Dani, Erin, Domenico, Javi e as Martas. Apareceram Karin, Dario e Leen para dizer boa noite, e avisar que a porta do albergue estava para fechar. Corremos e conseguimos entrar.

Total percorrido hoje: 19km

sábado, julho 1

17/06 - Vega de Valcarce até Fonfría

Já saí de capa, pois estava chovendo. Isso nao vai parar nunca?

Em Ruitelán reencontrei todos: Karin e Dario, um italiano que eu conhecera na Cruz de Ferro, e que dormiram no albergue brasileiro, e Domenico, Javi, Erin e, por coincidência, Dani, o catalao. Era ele que procuravam. Isto no caminho é muito engraçado. Os encontros e desencontros.

O Cebreiro. A subida é dura, sim, mas a paisagem compensa, e muito. É aqui que nos despedimos de Castilla y León e entramos na Província de Lugo, que faz parte da Galícia. Montanhas, vales, pequenos pueblos no meio do nada, árvores e flores. Maravilha! O pueblo d'O Cebreiro é uma antiga cidade celta, com uma atmosfera mágica em tudo o que você vê. Foi num bar ali que experimentei pela primeira vez o pulpo gallego. Saborosa carne de polvo, com muito azeite e pimenta vermelha em pó, e pao e muita cerveza.

Seguimos adiante. Depois de descer O Cebreiro, subimos até o Alto do Poïo, aonde há uma grande estátua de um peregrino. Disseram que eu era um clone perfeito da estátua. Tiramos fotos imitando a estátua, e até um turista tirou uma foto minha, hehehe.

Chegamos em Fonfría quase no fechamento do restaurante. Jogamos nossas coisas no chao e fomos comer. Depois, ficamos conversando com dois hospitaleiros brasileiros: Marcelo, da Bahia, que está estudando em Santiago, e Regiane, de Campinas, que depois de terminar o caminho resolveu trabalhar em alguns albergues por umas semanas. Bebemos chupitos, rimos falando do filme A Vida de Brian, e fomos dormir.

Total percorrido hoje: 17km
Curiosidade: a soma total dos quilômetros percorridos incluindo hoje é 666km

16/06 - Cacabelos até Vega de Valcarce

Acordei relativamente bem, e saí. Depois de somente 50m, parei com fortes dores nos pés. Tive que tomar uma decisao, e tomei. Tirei todo o jornal que havia socado em minhas botas desde León, e as coloquei. Nao podia ter tido idéia melhor. Já havia esquecido do seu conforto, sua segurança ao caminhar em cima de pedras soltas, sua maior proteçao, e as bolhas que tudo isso causaria. Seja bem-vinda aos meus pés novamente, fiéis e pesadas botas, que ajudaram a detonar minhas costas com o peso em demasia na mochila...

Em Trabadelo, reencontrei Peter, que nao via desde León, com novos amigos: Domenico, um italiano que mora no México, Javi, um espanhol de Bilbao que tem um hotel em Asturias, e Erin, uma americana que mora um pouco na Espanha e um pouco em Filadélfia. Seguimos juntos. Nao podia ter feito coisa melhor. Em poucos minutos, ganhei grandes amigos.

Parei em Vega de Valcarce, pois queria dormir no tao famoso albergue brasileiro, o Nossa Senhora do Brasil. Os outros seguiram para a próxima cidade, pois um amigo deles os aguardavam. Nos despedimos, e combinamos de nos encontrar em algum bar, o lugar mais provável para achá-los.

O albergue brasileiro. Nao gostei. Achei totalmente fake. Fábio, de Goiás, é um cara super gente fina. Conversa com você, é simpático e solícito. Já Itabira, também de Goiás, e dono do albergue, é muito estranho. Nao sei se estava num mal dia, mas me pareceu prepotente, e sem nenhum espírito de Caminho. Ele está lá mesmo é pela grana. Foi o que me pareceu. Ele te trata como se você fosse um retardado, passando as regras e repetindo tudo de um jeito como se fôssemos deixar um rastro de baba por todo o "seu" albergue. Muito estranho. Achei insípido demais o lugar, por causa dele.

Total percorrido hoje: 27km

15/06 - Molinaseca até Cacabelos

Acordei relativamente bem, e fui caminhando tranqüilo até Ponferrada. Encontrei Colin e Selena, e seguimos juntos. Quase na entrada da cidade, a flecha amarela indicava para a esquerda, e a estrada seguia direto a Ponferrada. Colin e Selena seguiram em frente. Eu, decidi seguir a flecha. PÉSSIMA idéia. Devo ter andado uns 5km a mais que eles, pois o Caminho passa por mais 2 pueblos ANTES da entrada velha de Ponferrada. Mas mesmo assim, nao quero atalhos no MEU caminho, quero percorrê-lo centímetro por centímetro, mesmo que seja doloroso e cansativo. E isso vale para toda a minha vida. Aprendemos muitas coisas por aqui...

Avistei o Castelo dos Templários. Que coisa! A chegar lá dentro, encontrei Colin e Selena já saindo, e dizendo que estavam me esperando a umas 2 horas. Ri com eles das minhas dores, e fui degustar o Castelo. Digo degustar, porque é uma experiência fantástica imaginar o que aconteceu perto de cada pedra daquelas construçoes. Quantas flechas passaram por cada vao próprio para o ataque. Quantas pessoas viveram em cada aposento. Quantas espadas se encontraram numa luta. Quantas vidas e quantas mortes...

Saí de Ponferrada às 15h00, tarde pra caralho, mas valeu a pena. Mais ameaça de chuva, e toca colocar a capa da mochila e preparar a capa do corpo.

Eu queria parar em Camponaraya, mas nao havia albergue, hostais, hotéis, porra nenhuma. Fui obrigado a seguir mais 4km até Cacabelos.

A Penitência. Ao deixar Camponaraya, começou a chuva. Aqui chamam de tormenta, e eu achei muito apropriado para aquele meu momento. Muito vento, minha capa voava para todos os lados, a chuva gelada trincava meus doloridos pés, a dor nao me permitia caminhar mais rápido, e a chuva apertava cada vez mais. Em certo momento, eu era o ponto mais alto dentro de um vinhedo, e raios caíam com uma freqüencia desesperadora. Coloquei o cajado para baixo, e caminhei e comecei a chorar. Devo ter rezado um terço inteiro, me sentindo a coisa mais insignificante do Universo, um pontinho irrelevante frente ao infinito, algo que nao faria falta a ninguém se um raio fritasse meus miolos. Depois de um tempo, agradeci por toda Sua obra, as fantásticas visoes da tempestade que eu via, sem poder fotografar para nao detonar a câmera, e rezei agradecendo pela minha vida, por meus olhos, ouvidos, pernas, pés e saúde, e por todos que eu amo e por todos que me amam e se importam comigo. Esta foi a uma hora mais longa de toda a minha existência. Cheguei morto em Cacabelos, com milhares de novos "cacabelos" brancos, nao conseguindo quase colocar meus pés no chao, mas depois, percebi que havia sido abençoado. Me disseram que a tempestade que peguei foi de granizo, e que detonou uma porrada de lugares em Cacabelos. Eu nao fui atingido. Eu fui presenteado com a minha vida. E eu aprendi a me amar, como nunca me amara desde que nasci.

Total percorrido hoje: 23km

14/06 - Rabanal del Camino até Molinaseca

Como sempre, fui um dos últimos a deixar o albergue. Comecei o caminho apreensivo, pois o primeiro lugar a passar hoje seria Foncebadón, um lugar que ouvira muitas histórias assustadoras. Decepçao. Foncebadón é um pueblo como qualquer outro, com bar e até um albergue. Nao senti nenhuma energia negativa, e nao fui atacado por nenhum cachorro. Aliás, os cachorros sao muito tranqüilos, até agora. Dóceis e simpáticos.

A Cruz de Ferro. Cheguei por lá e tirei a mochila para pegar a pedra que havia trazido do Brasil. Diz a lenda que ao jogar uma pedra que trouxe de sua casa aos pés da cruz, você se livra de todos os pecados e males da sua vida, e caminha renovado para uma nova vida. Que energia tem esse lugar! Chorei como uma criança, rezei e transferi para a pedra tudo o que me angustiava, e pedi para que me tornasse uma pessoa melhor, livre de culpas inexistentes, aberto a novos campos de trabalho e novas perspectivas neste maldito mundo capitalista. Depois de atirá-la aos PÉS da cruz (e nao na cruz, viu, Rê?), me senti muito bem, as dores dos meus pés aliviaram, minhas costas doeram menos, e a mochila pareceu muito, muito mais leve. Chorei de felicidade por quase mais 1km.

Cheguei a Molinaseca com os pés em frangalhos, desesperado e andando muito devagar. Fiquei puto. O albergue era 1km depois do fim da cidade. Isso é uma merda, no caminho. A maioria dos albergues estao no final da cidade, e depois de chegar cansado, você tem que voltar mais 1 ou 2km para encontrar um supermercado.

Total percorrido hoje: 26km

13/06 - Astorga até Rabanal del Camino

Me despedi de Lucas, pois sua jornada era mais longa que a minha, e aguardei os correios abrirem, às 09h00. Postei quase 2kg para Santiago, comprei calcanheiras de silicone para a papete, e um moleton novo, pois o meu eu dei falta em San Martin del Camino. Provavelmente ele ficou em alguma cadeira de bar em León. Minha lembrança de Astorga: um moleton escrito Minnesota University, hehehe. Hilário.

Visitei o Palácio Episcopal de Astorga, projetado de Gaudi. Me preocupei mais com a arquitetura do que com as obras de arte. Gaudi é gênio. Mínimos detalhes fabulosos, grandes detalhes fantásticos! Suas construçoes parecem que têm vida própria.

Deixei Astorga âs 12h00, um pouco atrasado, mas chegaria a tempo de ver o jogo do Brasil, que seria às 21h00.

Chuva, dia dois. As calcanheiras estao ajudando bastante, mas ainda preciso parar de pueblo em pueblo para descansar um pouco da dor.

Cheguei a Rabanal del Camino às 18h30, com folga pra tomar uma bela ducha, comer e me preparar psicologicamente para o meu primeiro jogo de Copa do Mundo longe do Brasil. Praticamente todos que estavam no albergue foram ao bar ver o jogo. De conhecidos, haviam Colin e Selena, Leen, Karin, Robèrt, um canadense que conheci em San Martin e um japonês idem, que nao me lembro do nome.

Saquei a minha bandeira da sorte, e todos tirarm fotos minhas com ela. Eu era o ÚNICO brasileiro naquele bar. É muito estranho. Quando o Brasil fez um gol, levantei e gritei com todos os meus pulmoes... Todos ficaram parados, olhando para mim como se eu tivesse tirado toda a roupa em cima da mesa. Olhei para todos e gritei Êêêêê! Eles responderam rindo. Alguma reaçao de comemoraçao, finalmente. O albergue fecharia às 22h00. Disse que dormiria no bar. A hospitaleira foi gente boa, e até viu o jogo conosco. Fechou o albergue às 23h00. O "jeitinho brasileiro" funciona na Espanha!

Total percorrido hoje: 21km

12/06 - San Martin del Camino até Astorga

Acordei muito bem, e com disposiçao para andar até Santiago. Tomei um belo café e comecei a andar. Depois de alguns dias, este foi o meu ritmo mais rápido pela manha.

Um pouco antes de chegar em Hospital de Orbigo, conheci Leen, uma belga que trabalha com crianças numa escola na Escócia. Paramos para comer e encontramos Rien e Gemma, que andariam apenas até a próxima cidade. Seguimos adiante.

Chuva! Meu primeiro dia de chuva no caminho. Toca aprender a colocar a capa na mochila, e enfiar a capa de chuva por cima de tudo. Ô troço quente. Papete ensopada, meias idem.

Numa trégua da chuva, paramos para descansar e conhecemos Lucas, um paulista que é músico experimental. Uma figura zen, que começou em Saint Jean uma semana depois do meu início, que andava uns 40km por dia, apreciando a vista e chegando no destino do dia quase sempre ao anoitecer.

Andamos juntos até Astorga, molhados, cansados, doloridos e mortos de fome umas 20h00. Tomamos uma ducha quente, jantamos e fomos dormir.

Total percorrido hoje: 26km

11/06 - León até San Martin del Camino

Demorei umas três horas para sair de León. Passeava devagar por suas ruas e avenidas, e igrejas e monumentos, e cafés e pontos turísticos, e tudo o mais. Me despedi com tristeza desta cidade, mas tive uma real sensaçao de que voltarei aqui novamente, qualquer ano desses.

Em La Virgen del Camino, encontrei Colin e Selena, o simpático casal da Califórnia, e seguimos juntos. Eles pararam em Villadangos del Páramo, mas eu queria mais. Mais dolorosos 4km até San Martin del Camino. Levei umas duas horas para percorrer um trecho muito curto, mas cheguei. Sentei numa cadeira para tomar um Aquarius, o Gatorade daqui, e dormi. Capotei. Tomei um banho e fui comer o menu do peregrino que o albergue oferecia. O melhor do caminho até agora. Pelo preço normal, uns €9,00, tive o mais completo e lauto jantar. Chorizos em rodelas como aperitivo, uma sopa com macarrao, um prato de sopa cheio de alface, outro prato de sopa lotado até a boca de batatas fritas, mais um ovo frito, fatias de lombo e um pimentao. Deixei mais da metade das batatas. Impossível. Depois, rodelas de abacaxi, um balde de café com leite e... chupito! Chupito é um digestivo, tipo o nosso "licorzinho" no final do jantar. A mulher colocou na minha mesa um copo e duas garrafas: uma, com Orujo de Hierbas, com a graduaçao alcoólica da nossa cachaça, mas com um sabor semelhante ao licor Stregga, e outra de Orujo Blanco, que lembra muito grappa, fortíssimo. Uma beleza!

Dormi como uma criança!

Total percorrido hoje: 26km

09/06 - Mansilla de las Mulas até León

Parei na próxima cidade para tomar café e tirar um pouco a papete. Tá foda. Se a recepçao em León for boa, ficarei um dia lá para descansar. Depois de Burgos, estou com trauma de cidades grandes...

Caminho monótono novamante. Sao as Mesetas, um planalto do norte da Espanha. Retas intermináveis, e sem uma mínima curva. Praticamente toda Castilla y León é assim.

Cheguei em León. Uma cidade grande, mas com um espírito e energia infinitamente melhores que Burgos. Paixao à primeira vista. Dá vontade de mudar definitivamente para cá hoje mesmo.

Perguntando aqui e ali, consegui chegar ao Barrio Umedo, a parte velha da cidade. A Catedral de León deveria figurar entre uma das Maravilhas do Mundo. Uma visao das portas do Paraíso. Por dentro, mais surpresas: cada buraquinho que vemos por fora, é um detalhado e colorido vitral, por dentro. É difícil nao ficar de queixo caído com tamanha beleza. Fiquei por lá umas duas horas, entre percorrer cada centímetro dos infinitos detalhes e um cultural passeio pelo museu.

Encontrei Dani, Inez, Peter e Gemma, e fomos comer tapas, as nossas porçoes. E levamos um tapa na cara com a conta, um tanto superior para a nossa rotina humilde de peregrinos...

Fomos beber e dançar. Fiesta! Amanha é dia de descanso.

Total percorrido hoje: 21km

08/06 - Bercianos del Real Camino até Mansilla de las Mulas

Mais caminhadas chatas hoje. Uma reta interminável, com estrada do lado direito e uma árvore a cada metro do lado esquerdo. É bonito, mas andar 7km vendo a mesma coisa é um saco. Parei em El Burgo Raneros para tomar algo, pois teria mais uns 11km sem nada pela frente.

Doloroso. Tudo incomoda. Nao tenho mais posiçao confortável para andar sem que sinta alguma dor. Tira tornozeleira, poe tornozeleira, poe palmilha da bota, tira palmilha da bota, tira tornozeleira e aperta um pouco mais o pé com uma faixa... tou pensando seriamente em voltar a usar as botas...

Cheguei em Reliegos e bebi cerveja, San Miguel, deliciosa! Encontrei Rien e Marcelo, e batemos papo por um tempo. Eles ficariam por lá, e eu queria andar um pouco mais, mesmo com os pés em frangalhos. Muitas vezes, a gente vai até onde nossos pés conseguem. Outras vezes, vamos até aonde nossa intuiçao quer, doa a quem doer. Coisas do Caminho...

16h00. Sol mortal. Só um louco anda numa hora dessas. Prazer: André.

No albergue, em Mansilla de las Mulas, conheci um letonês que terminava sua jornada ali. Saiu a pé, da Letônia, 5 meses atrás. Fez o caminho até Finisterre, e voltou tudo a pé. Tem neguinho mais louco que eu no mundo...

Total percorrido hoje: 26km

07/06 - Terradillos de los Templarios até Bercianos del Real Camino

Comecei a andar só, algo comum para mim. Pela manha, com os pés frios, caminho num ritmo bem lento, e os outros me passam fácil. Ao longo do dia, caminho melhor, até que meus pés gritem para que eu pare...

No meio do caminho, me despeço da Província de Palencia e entro na Província de León.

Paramos em Sahagún para conhecer a cidade. Show. Entramos numa igreja construída em 1300, com esculturas de madeira em tamanho natural representando a Via Sacra. É incrível estar perto de algo que foi construído ANTES do descobrimento do Brasil...

Mais 11km até a meta do dia, em baixo de um causticante sol. Eu e Gemma andamos o mais rápido que podíamos para chegar logo e descansar.

O albergue de Bercianos é o mais rústico até agora: por fora pedras, e por dentro um tipo de pau-a-pique. Abaixo, piso de pedra, no piso de acima, madeira. Cama confortável, ducha quente, perfeito!

Vi uma missa realizada em FRANCÊS, comemos todos juntos, umas 25 pessoas, entre peregrinos e hospitaleiros, e fomos todos para fora para ver, o que dizem por lá, o mais bonito pôr-do-sol do Caminho. Todos em silêncio, apenas Milan tocando violao numa língua ininteligível, e o fim do dia. Bonito. Um balé de pássaros completavam o espetáculo.

No albergue conheci dois espanhóis: Dani, um catalao, Inez, da Cantabria. E reencontrei Norma, a carioca que havia conhecido há uns dias.

Total percorrido hoje: 24km

06/06/06 - Carrión de los Condes até Terradillos de los Templarios

Tomei café na praça com Gemma, e começamos a caminhar. 17km sem NADA até o próximo pueblo. Gemma acelerou e fiquei para trás. Encontrei Ali, e fomos conversando. Sua amiga estava mais rápida, e a esperaria em Calzadilla de la Cueza.

Ao chegar lá, a primeira coisa que precisava era de uma caña, lê-se cânha, o nosso chopp. Faltavam 10km até Terradillos...

Muito sol e nada de sombra. Me senti no Saara. Transpiro em bicas. Se espremer minha camiseta, recarrego minha garrafa de água.

Chegamos, e fomos tomar... cerveja! Ficamos conversando com Gemma, Rien, Robert, Peter, um alemão muito divertido, e Nick e Tim, dois irlandeses loucos que estão fazendo o Caminho vestidos com grossas roupas de monges, para parecer peregrinos reais. Doidos de pedra. Com esse calor, se eu usasse aquilo seria suicídio.

Duas horas na internet atualizando o blog, comida e cama.

Durante o jantar, conheci Shun, um japonês que estuda na Europa, e decidiu fazer o caminho para ver como era. Com um inglês restrito, tem sobrevivido. É o primeiro oriental que encontro no caminho.

Total percorrido hoje: 27km

05/06 - Población de Campos até Carrión de los Condes

Depois de uma noite fria entre as estrelas, acordei resfriado. Meu nariz era uma cachoeira. Tomei outro antigripal e comecei a arrumar as coisas. Segunda-feira preguiçosa...

Fui o último a deixar o albergue, e andei devagar, pois meus pés me matavam. Parei em Villarmentero de Campos para descansar. Logo depois aparece Rasmus, também preguiçoso. Tomamos umas cervejas e seguimos viagem.

Um dia muito chato para caminhar. Entre os pueblos, temos uma infinita estrada reta, e a cada 500m tótens com uma concha, para indicar o Caminho. Um saco. Avistamos o outro pueblo logo no começo da caminhada, mas andamos e andamos e nunca chegamos... Para passar mais rápido, Rasmus sacou seu violão e eu adaptei o kazzoo para virar uma gaita, e tocamos por uma meia hora o "Blues do Caminho".

Em Villalcázar de Sirga, encontramos Robert, e depois apareceu Marcelo, o brasileiro que não tínhamos notícias desde Logroño. Tivera uma infecção, e ficara 2 dias descansando. Sua marcha é muito mais rápida que a nossa.

Carrión de los Condes é uma bela cidade, com praças arborizadas e construções de pedra. Lá encontrei Robert, Karin, Gemma e Milan, e reencontrei Rien, Maria, e Rachel e Ali, duas americanas que estudam no Novo México.

Fui dormir cansado, com os pés em frangalhos.

Total percorrido hoje: 18km

04/06 - Castrojeriz até Población de Campos

Acordei com tosse e um pouco de dor de garganta. Tomei um antigripal pra prevenir, e fui tomar meu desaiuño, café da manhã, com Gemma e Milan, um cara da Rep. Tcheca que conhecemos ontem. Como meus pés estão doloridos, eles andaram muito mais rápido.

Nem meia hora de caminhada, e tive que subir a Cuesta de Mostelares, uma PUTA subida, mas com paisagem muito rica. Mais feno por todos os lados, e uma PUTA descida...

Parei na frente de uma fonte em Boadilla del Camino. Lá, fiquei por umas duas horas, almoçando e atualizando o meu diário, regado à água fria da fonte e uma garrafa de tinto da Rioja que eu carregava na mochila.

Um trecho do caminho fazemos ao lado do Canal de Castilla, uma bela paisagem, com muito mato, barulho de água, sapos e pássaros. E insetos e outros bichos. Muitos insetos e outros bichos. Já me acostumei com eles. As aranhas passeiam nas minhas pernas, braços, mochila, e apenas as pego e devolvo à grama. Outro dia, um besouro tomou carona no meu braço por uns 2km...

Cheguei a Frómista e encontrei o albergue. 15 camas livres. Nao sei porquê, mas resolvi andar mais 4km até a próxima cidade.

Cheguei a Población de Campos, e o albergue estava cheio. Karin já havia montado acampamento no gramado, e me juntei a ela. Depois apareceu Gemma, também. Rasmus, Bethany e Emily, uma americana que conhecera há uns dias, resolveram dormir numa praça.

No meio da noite, acordei e vi, entre as árvores, a Via Láctea. Esta é uma das vantagens de dormir ao relento... Mas ao relento, com a estrutura de um albergue é muito melhor, pois temos ducha e banheiro e cozinha incluídos no pacote, hehehe.

Total percorrido hoje: 28km