Acordei relativamente bem, e fui caminhando tranqüilo até Ponferrada. Encontrei Colin e Selena, e seguimos juntos. Quase na entrada da cidade, a flecha amarela indicava para a esquerda, e a estrada seguia direto a Ponferrada. Colin e Selena seguiram em frente. Eu, decidi seguir a flecha. PÉSSIMA idéia. Devo ter andado uns 5km a mais que eles, pois o Caminho passa por mais 2 pueblos ANTES da entrada velha de Ponferrada. Mas mesmo assim, nao quero atalhos no MEU caminho, quero percorrê-lo centímetro por centímetro, mesmo que seja doloroso e cansativo. E isso vale para toda a minha vida. Aprendemos muitas coisas por aqui...
Avistei o Castelo dos Templários. Que coisa! A chegar lá dentro, encontrei Colin e Selena já saindo, e dizendo que estavam me esperando a umas 2 horas. Ri com eles das minhas dores, e fui degustar o Castelo. Digo degustar, porque é uma experiência fantástica imaginar o que aconteceu perto de cada pedra daquelas construçoes. Quantas flechas passaram por cada vao próprio para o ataque. Quantas pessoas viveram em cada aposento. Quantas espadas se encontraram numa luta. Quantas vidas e quantas mortes...
Saí de Ponferrada às 15h00, tarde pra caralho, mas valeu a pena. Mais ameaça de chuva, e toca colocar a capa da mochila e preparar a capa do corpo.
Eu queria parar em Camponaraya, mas nao havia albergue, hostais, hotéis, porra nenhuma. Fui obrigado a seguir mais 4km até Cacabelos.
A Penitência. Ao deixar Camponaraya, começou a chuva. Aqui chamam de tormenta, e eu achei muito apropriado para aquele meu momento. Muito vento, minha capa voava para todos os lados, a chuva gelada trincava meus doloridos pés, a dor nao me permitia caminhar mais rápido, e a chuva apertava cada vez mais. Em certo momento, eu era o ponto mais alto dentro de um vinhedo, e raios caíam com uma freqüencia desesperadora. Coloquei o cajado para baixo, e caminhei e comecei a chorar. Devo ter rezado um terço inteiro, me sentindo a coisa mais insignificante do Universo, um pontinho irrelevante frente ao infinito, algo que nao faria falta a ninguém se um raio fritasse meus miolos. Depois de um tempo, agradeci por toda Sua obra, as fantásticas visoes da tempestade que eu via, sem poder fotografar para nao detonar a câmera, e rezei agradecendo pela minha vida, por meus olhos, ouvidos, pernas, pés e saúde, e por todos que eu amo e por todos que me amam e se importam comigo. Esta foi a uma hora mais longa de toda a minha existência. Cheguei morto em Cacabelos, com milhares de novos "cacabelos" brancos, nao conseguindo quase colocar meus pés no chao, mas depois, percebi que havia sido abençoado. Me disseram que a tempestade que peguei foi de granizo, e que detonou uma porrada de lugares em Cacabelos. Eu nao fui atingido. Eu fui presenteado com a minha vida. E eu aprendi a me amar, como nunca me amara desde que nasci.
Total percorrido hoje: 23km
sábado, julho 1
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3 comentários:
:¨(
Vc faz muita falta pra mim, não repita isso!!!
FAÇO MINHAS AS PALAVRAS DA RÊ!!!
Fiquei realmente emocionada... mas MUUUITO FELIZ, pois são as grandes dificuldades que nos trazem as maiores e melhores lições de vida, e com isso, o auto conhecimento e a (re) descoberta de nós mesmos!!!
E você faz sim uma FALTA ABSUUUURDA, menino!!! ;D
Te Amo, Andrew!!!
Beijos, meu querido!!
Saudades, Eu
Já faz alguns textos que estou sentindo algo além de "busca pelo conhecimento interior" e algo parece surgir.
Muito interessante essa passagem.
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