sábado, julho 1

15/06 - Molinaseca até Cacabelos

Acordei relativamente bem, e fui caminhando tranqüilo até Ponferrada. Encontrei Colin e Selena, e seguimos juntos. Quase na entrada da cidade, a flecha amarela indicava para a esquerda, e a estrada seguia direto a Ponferrada. Colin e Selena seguiram em frente. Eu, decidi seguir a flecha. PÉSSIMA idéia. Devo ter andado uns 5km a mais que eles, pois o Caminho passa por mais 2 pueblos ANTES da entrada velha de Ponferrada. Mas mesmo assim, nao quero atalhos no MEU caminho, quero percorrê-lo centímetro por centímetro, mesmo que seja doloroso e cansativo. E isso vale para toda a minha vida. Aprendemos muitas coisas por aqui...

Avistei o Castelo dos Templários. Que coisa! A chegar lá dentro, encontrei Colin e Selena já saindo, e dizendo que estavam me esperando a umas 2 horas. Ri com eles das minhas dores, e fui degustar o Castelo. Digo degustar, porque é uma experiência fantástica imaginar o que aconteceu perto de cada pedra daquelas construçoes. Quantas flechas passaram por cada vao próprio para o ataque. Quantas pessoas viveram em cada aposento. Quantas espadas se encontraram numa luta. Quantas vidas e quantas mortes...

Saí de Ponferrada às 15h00, tarde pra caralho, mas valeu a pena. Mais ameaça de chuva, e toca colocar a capa da mochila e preparar a capa do corpo.

Eu queria parar em Camponaraya, mas nao havia albergue, hostais, hotéis, porra nenhuma. Fui obrigado a seguir mais 4km até Cacabelos.

A Penitência. Ao deixar Camponaraya, começou a chuva. Aqui chamam de tormenta, e eu achei muito apropriado para aquele meu momento. Muito vento, minha capa voava para todos os lados, a chuva gelada trincava meus doloridos pés, a dor nao me permitia caminhar mais rápido, e a chuva apertava cada vez mais. Em certo momento, eu era o ponto mais alto dentro de um vinhedo, e raios caíam com uma freqüencia desesperadora. Coloquei o cajado para baixo, e caminhei e comecei a chorar. Devo ter rezado um terço inteiro, me sentindo a coisa mais insignificante do Universo, um pontinho irrelevante frente ao infinito, algo que nao faria falta a ninguém se um raio fritasse meus miolos. Depois de um tempo, agradeci por toda Sua obra, as fantásticas visoes da tempestade que eu via, sem poder fotografar para nao detonar a câmera, e rezei agradecendo pela minha vida, por meus olhos, ouvidos, pernas, pés e saúde, e por todos que eu amo e por todos que me amam e se importam comigo. Esta foi a uma hora mais longa de toda a minha existência. Cheguei morto em Cacabelos, com milhares de novos "cacabelos" brancos, nao conseguindo quase colocar meus pés no chao, mas depois, percebi que havia sido abençoado. Me disseram que a tempestade que peguei foi de granizo, e que detonou uma porrada de lugares em Cacabelos. Eu nao fui atingido. Eu fui presenteado com a minha vida. E eu aprendi a me amar, como nunca me amara desde que nasci.

Total percorrido hoje: 23km

3 comentários:

Anônimo disse...

:¨(
Vc faz muita falta pra mim, não repita isso!!!

Anônimo disse...

FAÇO MINHAS AS PALAVRAS DA RÊ!!!
Fiquei realmente emocionada... mas MUUUITO FELIZ, pois são as grandes dificuldades que nos trazem as maiores e melhores lições de vida, e com isso, o auto conhecimento e a (re) descoberta de nós mesmos!!!
E você faz sim uma FALTA ABSUUUURDA, menino!!! ;D

Te Amo, Andrew!!!
Beijos, meu querido!!
Saudades, Eu

Nerd Rabugento disse...

Já faz alguns textos que estou sentindo algo além de "busca pelo conhecimento interior" e algo parece surgir.

Muito interessante essa passagem.