quinta-feira, junho 15

02/06 - Burgos até Arroyo San Bol

Saí de Burgos acompanhado de Bethany, uma americana que havia conhecido há uns dois dias. Mais conversação em inglês... vou voltar craque pro Brasil, hehehe.

Paramos em Rabé de las Calzadas para comer alguma coisa, e encontrei por lá Gemma, uma holandesa que já via desde Roncesvalles e Manoel, de Madri, que conheci em Zubiri, e, claro, outras pessoas que você conhece de vista, mas nunca sabe ou lembra o nome... é muita gente pra minha cabecinha lembrar.

As estradas neste trecho são uma maravilha: um caminho de terra batida, cercado de montanhas com feno por todos os lados. O vento estava em direçao ao oeste, como o Caminho, e o efeito no feno faz lembrar o mar. Bonito pra caralho!

Numa parada pra tomar água reencontrei Rasmus, e apareceu uma mulher inglesa que eu nunca havia visto. Seguimos juntos, e encontramos, no meio do nada, uma plaquinha indicando uma "fuente", ou fonte, como preferirem. Estava um calor dantesco, e a água estava acabando.

Chegamos a San Bol. Uma casa estranha, com uma cúpula tipo de igreja, uma bandeira escrito PACE, paz, entre as cores do arco-íris, uma piscina e nada mais. Dois loucos nos receberam. Italianos. Perguntamos do hospitaleiro, e eles disseram que não havia hospitaleiro. Estranho. Depois de muita conversa descobrimos que haviam 4: Virgilio e Julio, os italianos, um húngaro e uma espanhola. Encontrei já instalados Gemma, Robert, do "fellowship of the Camino", e uma francesa que nao lembro o nome. Depois chegaram mais pessoas, entre elas, Karin, também do fellowship.

Somente à base de donativos, a casa sobrevive e nos provém de bom vinho e uma lauta refeição, que pede a ajuda de todos para a preparação. Violão, tambores parecidos com atabaques, flauta transversal, um tubo de uns 2 metros que faz um som contínuo - me lembrou algo tibetano, sei lá -, isto é, FESTA!

A casa por dentro é toda pintada com desenhos doudos, e cheia de papéis pendurados. Um deles, que me chamou a atenção e risos, estava escrito: "Paulo Coelho vende chorizos".

Não havia banheiro. Logo, NÃO HAVIA DUCHA! Um cano de água que alimentava a piscina era a nossa reserva de água potável. A piscina era bem gelada, por causa da água de montanha. Por outro cano, caía água para fora, a fim de circular a água da piscina e funcionar como torneira para lavar roupa e tomar banho. Frio. Três dias sem banho é sacanagem, né? Tomei um ridículo banho-de-gato, mas pelo menos lavei um pouco minhas partes vitais, e finalmente troquei de cueca!

Peguei o tambor pra tocar e não larguei mais. A galera me elogiou, dizendo algo como: só podia ser brasileiro pra tocar assim... hehehe. Tocamos antes e depois do jantar. Anoiteceu. Os hospitaleiros nos chamaram para dentro, para o RITUAL.

Luzes apagadas, e um caldeirão com chama azul no meio da sala. Com uma concha, o líquido era mexido e derramado novamente no caldeirão. Virgilio leu uma poesia italiana de boa sorte aos peregrinos e bebemos a poção. Surreal. Mais música e vinho. Fomos dormir umas 2 da matina.

Esta foi a primeira noite que vi a lua e as estrelas da Espanha. Mas não consegui enxergar a Via Láctea, ainda...

Total percorrido hoje: 25km

Um comentário:

Anônimo disse...

Parece que vc voltou no tempo...que vc saiu dessa época e voltou para a época dos feudos...fico esperando novos capítulos...Beijos Tha