sexta-feira, dezembro 22

Pequena nota natalina

Caros leitores do Peregrino On-line!

Sinto muito ter abandonado esta "casa" desde setembro...
Garanto que, no ano que vem, muitas surpresas aparecerão por aqui...

FELIZ NATAL E UM ÓTIMO 2007 PARA VOCÊS!

Beijão pras moçoilas!
Abração pros barbados!
André Lasak

segunda-feira, setembro 18

Dormitórios Alternativos

27/05/06
Navarrete. Minha primeira experiência como morador de rua. Exatamente aonde aquele homem está sentado foi a minha "cama". Isto é um tipo de passarela. A luz no fim do túnel é a entrada da cidade, e à esquerda, quase em frente ao homem sentado, é a entrada do albergue que estava lotado. O lado direito, abaixo, é a rua aonde os carros passam. Atrás da fotógrafa é um tipo de praça, com um bar que fica aberto até umas 3 da manhã. Durma com um barulho desses, hehehe.

1º dia como dorme-sujo
Clique na foto para ampliar

CRÉDITO DA FOTO: Gemma Lago


23/06/06
Ribadiso de Baixo. Outro albergue lotado. Dormimos num tipo de sala, que era inteira aberta. Os carcamanos e as carcamanas foram dormir em camas vazias pela manhã, e não me chamaram... hehehe. Este aí encolhido sou eu tentando dormir um pouquinho mais, antes de me preparar para seguirmos a Santa Irene, nosso último lugar a dormir antes de Santiago de Compostela.

já acostumado com a vida de dorme-sujo
Clique na foto para ampliar

CRÉDITO DA FOTO: Gemma Lago

sábado, setembro 2

Ferramenta de Busca

Tem novidade no Peregrino On-line!

Incluí na barra da direita uma ferramenta de busca.
Agora ficará bem mais fácil localizar o que você deseja.

Afinal, se no Caminho seguimos setas amarelas,
porque aqui seria diferente?

segunda-feira, agosto 28

Momento de Reflexão...

22/06/06
Floresta mágica galega. Algum ponto entre Melide e Raido.
Parada para descansar, ver a água correr, e quase flutuar.

Reflexão na Galícia
Clique na foto para ampliar


CRÉDITO DA FOTO: Domenico Tricarico

sábado, agosto 26

Indicação de Leitura

Recomendo que vocês leiam O Desabafo de Oz, no Quimera Ufana, meu outro blog. Fiz um texto que tem a ver com o meu regresso do Caminho de Santiago.

segunda-feira, agosto 21

O Peregrino Responde - 002

Oi, André, tudo bem? Você usou a palmilha de silicone que disse que usaria? Qual a marca e modelo? Ela foi útil? Quanto custou? Ela é durável? Faz muita diferença? Qual o número da palmilha e qual o número que você calça? Valeu!
Mauricio Simões, Curitiba - PR, via orkut


Usei com a bota uma palmilha de silicone, sim, e recomendo a todos! A que eu comprei foi uma plana, para dar mais conforto aos pés, mas cada caso é um caso. É melhor, antes de fazer o caminho, visitar um ortopedista e verificar se seu pé precisa de algum tipo de palmilha especial. Para isso, é só tirar um molde de gesso numa casa especializada, e ter uma palmilha exclusiva para a sua bota.

A marca da palmilha que usei foi TIMA. Ouvi falar que é uma das melhores do mercado. Usei-a durante o Caminho, e ainda está nova! Só para você ter uma idéia, a calcanheira de silicone que eu comprei na Espanha para usar junto com a papete, começou a descascar no terceiro dia de uso. Não importa aonde você compre, sempre haverá as boas e as vagabundas...

Clique aqui e veja como você prefere falar com a TIMA. Eles são os fabricantes, e apenas indicarão a(s) loja(s) da sua região aonde você encontrará seus produtos.

Aqui em São Paulo, em abril deste ano, eu encontrei a mesma palmilha por R$60,00 o par (aonde comprei) ou até pela exorbitância de R$120,00. Garimpe. Eu encontrei o site da TIMA e informações sobre lojas de produtos ortopédicos de São Paulo fuçando no Guia Mais.

A maior vantagem da palmilha de silicone é que seu pé demora mais para reclamar. No início da caminhada, parece que você está pisando nas nuvens. Dependendo de quantos quilômetros você andar, e/ou quantos quilos você carregar na mochila, chegará um momento em que não adiantará nada ter palmilha ou qualquer outro acessório de conforto. Pare. Tire a bota, coloque os pés pra cima e relaxe por uns 20 minutos. Faça uma massagem, se preferir. E continue até o seu destino do dia, lembrando-se que você anda até onde seus pés te levam. Não abuse!


Pronto!

Mande sua pergunta por e-mail, telefone, sinal de fumaça, ou no tópico O PEREGRINO RESPONDE, na Comunidade Peregrino On-Line do orkut. Sua pergunta aparecerá no blog assim que eu encontrar todas as respostas possíveis. Participe! E até a próxima!

domingo, agosto 13

Novo Layout!

Resolvi mudar o layout do Peregrino On-line.

Este template está em fase de testes, e aos poucos eu acertarei pequenos "bugs".

Quem tem Firefox, por exemplo, poderá ter alguns problemas para visualizar todas as imagens, mas no Internet Explorer está ok.

Comentem, sugiram, reclamem!
Quero saber suas opiniões.

segunda-feira, agosto 7

O Peregrino Responde - 001

Novidades no Peregrino On-line! Mande sua pergunta por e-mail, telefone, sinal de fumaça, ou no tópico O PEREGRINO RESPONDE, na Comunidade Peregrino On-Line do orkut. Sua pergunta aparecerá no blog assim que eu encontrar todas as respostas possíveis. Participe!



André! Como você fez o cadastro no cartão Ibéria de cliente preferencial? Tem que pagar algo?
Márcia, via orkut


PRIMEIRO PASSO: Vá ao site da Iberia, e clique na aba Iberia Plus, na parte de cima da página. O site é todo em espanhol, portanto é uma ótima forma de já treinar a língua.

Na página da Iberia Plus, você verifica todas as vantagens de possuir este cartão. Para se inscrever, clique, no lado esquerdo, o botão Regístrese ahora.

LEMBRETE: Apellido, em espanhol, é sobrenome, viu? ;)

Na área tipo de documento, é preferível que você escolha o passaporte.

Após cadastrar, você receberá em até 20 dias em sua casa o cartão. Grátis.

Caso você já tenha comprado a passagem: assim que receber o cartão, ligue para o número que se encontra na carta, e pergunte qual o procedimento para incluir esta passagem no programa de milhagem da Iberia. É simples: basta enviar um e-mail (o endereço será passado na ligação) com os dados da passagem e seu nome e número do cartão Iberia Plus.

Pronto!


Aguardo suas dúvidas! Participe d'O Peregrino Responde. Até a próxima!

quinta-feira, agosto 3

Algumas Fotos Soltas #9

24/05/06
Posto de gasolina entre Estella e Ayegui.
Nesta foto dá pra mensurar a altura do meu cajado...

Completa, doutor!
Clique na foto para ampliar


CRÉDITO DA FOTO: Katrin Gerner

segunda-feira, julho 31

Algumas Fotos Soltas #8

19/05/06
Pirineus. Contornando um abismo.

Mosquito
Clique na foto para ampliar


CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

Algumas Fotos Soltas #7

19/05/06
Pirineus. E um estranho mosquito no meu chapéu.

Mosquito
Clique na foto para ampliar


CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

quinta-feira, julho 27

Algumas Fotos Soltas #6

09/06/06
Catedral de León, à noite.

Catedral
Clique na foto para ampliar


CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

Algumas Fotos Soltas #5

07/06/06
Este é o famoso pôr-do-sol em Bercianos del Real Camino.
Os moradores dizem que é o mais bonito em todo o Caminho de Santiago. Eu não.

Pôr-do-sol
Clique na foto para ampliar


CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

Algumas Fotos Soltas #4

04/06/06
Descanso no topo da Cuesta del Mostelares, depois de Castrojeriz.
Estas tornozeleiras eu comprei em Burgos.
Os dedos dos pés estão brancos por causa do Hipoglós, receita da podóloga para evitar atrito, bolhas e umidade.
E, no canto direito, abaixo, é possível ver uma parte da ponta do meu cajado, ainda "ornamentada" com folhagens. Foi isto que provavelmente causou ojeriza aos moradores de Burgos.

Pés doridos
Clique na foto para ampliar


CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

terça-feira, julho 25

Algumas Fotos Soltas #3

25/05/06
Minhas meias secando no albergue de Los Arcos.

Meias Molhadas...
Clique na foto para ampliar


CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

Algumas Fotos Soltas #2

25/05/06
Parada merecida no gramado de uma casa, vendo o que já andei.
No alto da montanha, um castelo. Abaixo, Villamayor de Monjardin.

Descanso...
Clique na foto para ampliar


CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

Algumas Fotos Soltas #1

Aguardo ainda a revelação das minhas fotos "analógicas". Estou pesquisando preços, afinal, são mais de 800. Por enquanto, postarei alguns "aperitivos", feitos com a digital.

FOTO SOLTA #1
21/05/06
Estrada de terra entre Zubiri e Larrasoaña

Pegadas...
Clique na foto para ampliar


CRÉDITO DA FOTO: André Lasak

sexta-feira, julho 21

O Caminho, Dia a Dia

17/05/06 - A Saída
18/05/06 - Conexões

19/05/06 - Saint Jean Pied-de-Port até Roncesvalles
20/05/06 - Roncesvalles até Zubiri
21/05/06 - Zubiri até Arre
22/05/06 - Arre até Cizur Menor
23/05/06 - Cizur Menor até Puente la Reina
24/05/06 - Puente la Reina até Ayegui
25/05/06 - Ayegui até Los Arcos
26/05/06 - Los Arcos até Viana
27/05/06 - Viana até Navarrete
28/05/06 - Navarrete até Azofra
29/05/06 - Azofra até Redecilla del Camino
30/05/06 - Redecilla del Camino até Villafranca Montes de Oca
31/05/06 - Villafranca Montes de Oca até San Juan de Ortega

01/06/06 - San Juan de Ortega até Burgos
02/06/06 - Burgos até Arroyo San Bol
03/06/06 - Arroyo San Bol até Castrojeriz
04/06/06 - Castrojeriz até Población de Campos
05/06/06 - Población de Campos até Carrión de los Condes
06/06/06 - Carrión de los Condes até Terradillos de los Templarios
07/06/06 - Terradillos de los Templarios até Bercianos del Real Camino
08/06/06 - Bercianos del Real Camino até Mansilla de las Mulas
09/06/06 - Mansilla de las Mulas até León
10/06/06 - León (dia de descanso)
11/06/06 - León até San Martin del Camino
12/06/06 - San Martin del Camino até Astorga
13/06/06 - Astorga até Rabanal del Camino
14/06/06 - Rabanal del Camino até Molinaseca
15/06/06 - Molinaseca até Cacabelos
16/06/06 - Cacabelos até Vega de Valcarce
17/06/06 - Vega de Valcarce até Fonfría
18/06/06 - Fonfría até Monasterio de Samos
19/06/06 - Monasterio de Samos até Barbadelo
20/06/06 - Barbadelo até Ventas de Narón
21/06/06 - Ventas de Narón até Pontecampaña
22/06/06 - Pontecampaña até Ribadiso de Baixo
23/06/06 - Ribadiso de Baixo até Santa Irene
24/06/06 - Santa Irene até Santiago de Compostela
25/06/06 - Santiago de Compostela (dia de descanso)

26/06/06 - Santiago de Compostela até Negreira
27/06/06 - Negreira até Olveiroa
28/06/06 - Olveiroa até Corcubión
29/06/06 - Corcubión até Finisterre
30/06/06 - Finisterre até Santiago de Compostela

01/07/06 - Santiago de Compostela (dia de descanso)
02/07/06 - Santiago de Compostela até Barcelona

Acabou mas não Terminou

quinta-feira, julho 20

Acabou mas não terminou!

Depois de muito atraso, finalmente atualizei por completo meu diário de viagem.

O que vocês acompanharam nesta página, durante estes dois meses, é um resumo de tudo o que vi e aprendi com o Caminho de Santiago. A versão completa já está em desenvolvimento. Ela se transformará num livro. E assim que eu tiver novidades, avisarei a todos.

E o Peregrino On-line não termina aqui! Este será um canal aberto para eu publicar dicas, fotos, e respostas às dúvidas dos futuros peregrinos. Conto com a colaboração de vocês para manter vivo este blog.

Abraços!

02/07 - Santiago de Compostela até Barcelona

Rodoviária. Estou esperando a cabine de venda de passagens abrir, tomando um café. Nisto, não acredito no que vejo. Javi, Gemma e Peter! Javi e Gemma resolveram dormir na praia, e eu não conseguira me despedir deles em Finisterre. Peter esperava o ônibus para ir ao aeroporto, também, e me avisou que a venda do bilhete era direto com o motorista. Se eu não tivesse os encontrado, poderia perder meu avião.

Os encontros e reencontros do Caminho perduram. Esta sincronia é uma das coisas mais mágicas que existem por aqui. E o Caminho continuará para sempre dentro de nós, nos momentos de aperto, de dor, de desespero, para nos mostrar que somos capazes de superar qualquer obstáculo, qualquer pedra solta, qualquer desafio.



Barcelona! Agora me sinto realmente um turista.

***** FIM *****

30/06 - Finisterre até Santiago de Compostela

Fui acordado pelo hospitaleiro. Eu era o último a acordar, e eles estavam me esperando para fechar o albergue. Fui tomar café num bar, e bati papo com 2 brasileiros que conhecera naquele instante, e fiquei sabendo da história de um garoto carioca que fez o Caminho, só que não ligou para dar notícias em casa. Todos os brasileiros no Caminho estavam de prontidão, todos os grupos de internet sobre o Caminho estavam à postos. Não sei se encontraram o idiota. Porra, não custa ligar pra dar notícias, né? Se fosse um fim de semana, tudo bem, mas um mês e pouco, num outro país...

Peter descobriu aonde estava Karin. Há cinco dias de cama, tomando anti-inflamatórios. Não curtiu Finisterre. Ainda. Me despedi dela, e fui pegar meu ônibus. Ao olhar pela janela, avistei Peter e Karin fazendo tchau. Ela transformou seu stick em bengalinha, e foi se arrastando para se despedir. Este é o espírito dos amigos do Caminho. Eu teria feito o mesmo.

Depois de mais de 40 dias, eu estava dentro de um ônibus. Isto é horrível. Mais horrível ainda é realizar praticamente o mesmo trajeto que levei quatro dias, em duas horas e meia.

Santiago de Compostela, novamente. Tive que deixar a praia mais cedo porque hoje é sexta-feira, e amanhã e domingo o Correio estará fechado. Tenho que pegar as coisas que mandei de Pamplona e Astorga, mais ou menos uns 5kg. Me dei de presente um hostal. Afinal, terminou a minha peregrinação, e eu não posso mais dormir em albergues de peregrinos.

29/06 - Corcubión até Finisterre

Acordamos para nosso último dia como peregrinos. Javi e Gemma seguiram na frente, eu e Peter fomos em seguida. Mais subidas em montanhas, mais descidas cheias de pedras, cuidado redobrado.

Novamente a vista do mar. Andamos na areia, e paramos num bar de hotel à beira-mar para tomarmos café. Os ricos freqüentadores do hotel nos olhavam de rabo de olho, não entendendo as mochilas, os cajados, as botas, as roupas encardidas e suadas. E nós não demos a mínima.

Continuamos. Falta pouco! Gemma abraçou Javi e voltou a chorar. Deixamos os dois, andamos mais um pouco e paramos num bar que devia estar a 1,5km do albergue de Finisterre. Ali bebemos, rimos, almoçamos, bebemos mais um pouco, reencontramos Maurício, bebemos mais, reencontramos uma garota japonesa que vimos um louco com cabelo azul raspando sua cabeça lá n'O Cebreiro, rimos, bridamos, caímos n'água, voltamos para beber e rir mais um pouco, e levantamos acampamento.

Chegamos ao albergue, ganhamos nossas Finisterranas - o diploma por termos feito o caminho a pé -, tomamos um banho, separamos nossas roupas "especiais" num saquinho e começamos a andar até o nosso destino. Mais 3km. O farol do Cabo Fisterra, o Cabo da Morte, o fim da Terra. Vimos o pôr-do-sol dali. E ali, nas pedras, usamos o chapéu do Dani como um filtro. Cada um colocou-o na cabeça e transferiu tudo o que queria queimar da sua antiga vida, para renascer numa vida nova. Pensamos também em todos os que não estavam conosco. De uma grande turma, e de centenas de conhecidos, somente quatro estavam ali, naquele momento. E queimamos nossas roupas, e o chapéu do Dani, e a "pedra do sapato" do Domenico, e muitas outras coisas. Renascemos.

Voltamos, e encontramos Eduardo e os outros, e comemos parrillada, o churrasco deles, e brindamos, e bebemos vinho, e fomos dormir.

Total percorrido hoje: 13,5km

28/06 - Olveiroa até Corcubión

- You smell like a cow!

Este foi o "bom dia" de Peter para mim. Chão de uma estrebaria, com moscas pousadas em todos os lugares, e com um cheiro horrível no ar daria tudo para eu acordar de mal humor, mas a frase de Peter me fez gargalhar.

Arrumamos bem lentamente nossas coisas. Javi e Peter saíram na frente, e eu fiquei consolando Gemma, que começara a chorar. É, estava realmente terminando. Amanhã chegaríamos a Finisterre, o fim da Terra, o fim da viagem, a volta para casa. Ninguém quer voltar para casa, nem terminar o caminho. Esta é a coisa mais difícil que enfrentamos.

Encontramos Javi, Peter e Alvaro, um espanhol que conhecemos em Pontecampaña, num bar em Hospital, e seguimos juntos. Peter e Alvaro aceleraram o passo, deixando-nos para trás. Caí pela segunda vez na minha Via Crucis: desta vez, fui quase com a cara no chão. Bati o joelho, quebrei mais uma ponta do cajado e torci o pé direito, o mais zoado. Gemma me ajudou a tirar a bota e a meia, e Javi me fez uma massagem. Doeu pra cacete, mas adiantou. Voltei a andar normalmente, como se "quase nada" tivesse acontecido.

A uns 6km do nosso destino do dia, no início de uma descida de uma íngreme montanha, recebemos o presente que merecíamos, depois de quase 40 dias de caminhada: a vista de um maravilhoso horizonte azul, o mar. Daqui, à extrema direita, avistamos o Cabo Fisterra, que será o nosso ponto final, amanhã. Mais choro de Gemma, e eu também entrei na dança. Descemos, subimos e descemos mais umas montanhas, e chegamos em Cee: playa! Andamos mais 1km e paramos num bar em Corcubión e, frente ao mar, tomamos cervejas e comemos frutos do mar. Reencontramos Marta, que havia andado mais rápido e chegara ontem em Finisterre. Ela voltou para trás para se despedir, pois amanhã cedo retornará à Zaragoza.

Dormimos na grama, ao lado do albergue. Eduardo nos emprestou a lona de sua barraca para forrarmos o chão.

Eduardo é argentino. Saiu de sua casa, em Buenos Aires, com dois cavalos e uma aventura na cabeça. Subiu toda a América Latina, atravessou os Estados Unidos, pegou um navio e chegou na Europa com um cavalo a menos, que morrera no percurso. Comprou outro cavalo e começou o Caminho de Santiago. Conheceu uma finlandesa que começou a acompanhá-lo. Nos encontramos pela primeira vez uns dois dias antes de chegarmos a Santiago. Depois de quatro longos anos montado num cavalo, estava chegando a Finisterre. Mas ali não será o fim de sua aventura. De Finisterre seguirá para Portugal, até lá embaixo. Depois Roma, depois Jerusalém, e lá pegará o caminho de volta para casa. Entrará na Argentina pelo sul do Brasil. Mais quatro anos. Oito, fora de casa. Quer escrever um livro, mas sugeri que escreva mais de um, afinal, oito anos é muita história para um volume só. Eu só consigo pensar numa coisa: como será voltar para casa, depois de oito anos afastado, realizando algo tão doido? Não sei se eu conseguiria me adaptar...

Total percorrido hoje: 19,5km

27/06 - Negreira até Olveiroa

Fui um dos últimos a acordar. Quando entrei no albergue, encontrei, quase saindo, um simpático casal de franceses que eu não via há uns 15 dias, e nos conhecíamos desde Burgos. Pena que não lembrava seus nomes. Nos abraçamos, eles se foram, e não nos vimos mais.

Quase 9km depois encontrei Javi e Gemma em A Pena. Comemos, e eu saí antes dos dois, pois queria adiantar minha caminhada do dia para ver o jogo do Brasil em algum bar mais próximo da meta do dia, um longo dia.

Parei em Maroñas, uns 13km antes de Olveiroa, num bar de beira de estrada, às 17h15. Vazio. Eu, a bandeira da sorte no colo, e uma bela TV no Brasil X Gana. Eu realmente andei bem rápido, porque Javi e Gemma me encontraram no bar quando estava começando o 2º tempo. Eles comeram algo e partiram, pois às 21h00 começaria o Espanha X França, e Javi não queria perdê-lo. Eu disse que esperaria acabar este jogo para alcançá-los.

Cheguei cansado, em Olveiroa, às 21h50. Quase anoitecera na estrada. Estava apreensivo com isso, pois não havia a mínima iluminação, e os poucos carros que passavam dirigiam como loucos. O albergue estava vazio. Todos estavam no único bar do pueblo, vendo o jogo. Quando cheguei lá, foi uma festa. Todos vieram me abraçar. Parecia que eu estava perdido há 10 anos. Este é o espírito do Caminho.

A França eliminou a Espanha, e fomos dormir.

Albergue lotado. Me sobrou um colchão dentro de uma estrebaria desativada. Não sei se realmente estava desativada, porque aquilo ali fedia. Lá dormimos eu, Peter, Eduardo, um argentino que contarei sua história mais tarde, um francês com cara de doido, que era uma mistura de Ian Gillan com a bruxa do mar, e outra pessoa que não identifiquei, pois já estava dormindo quando cheguei ali.

Total percorrido hoje: 33km

26/06 - Santiago de Compostela até Negreira

Choro: dia três. Mais despedidas. Eu, Erin, Peter e Pipa acompanhamos Domenico até a rodoviária. Ele voltará hoje para a Itália. Depois, fomos até a parte velha da cidade. Eu fui atrás de um banco, Peter iniciou sua caminhada do dia, e eu me despedi de Erin e Pipa, que iriam voltar pra casa, também.

Parei na frente da Catedral, ao lado da concha em baixo-relevo que representa o marco zero do Caminho de Santiago. Foi ali que comecei a preparar meus pés para a minha nova e última etapa: Finisterre. Muitos peregrinos e turistas vieram conversar comigo, perguntando se eu havia chegado hoje aqui, daonde iniciei a peregrinação, estas coisas. Encontrei Maurício, e conheci por intermédio dele Bebel, uma carioca qua acabara de chegar ali.

Lixo - Conversamos um pouco sobre o lixo no Caminho, a quantidade absurda de papel higiênico deixada pelas moçoilas nos arbustos, e sobre um filho da puta do sul que pixou em praticamente todo o trajeto - asfalto, placas de sinalização, postes - coisas como "Brasil tri legal" e "Michele a gata do caminho". O que leva um imbecil a fazer coisas deste tipo? Se ele pensa que fez um bem aos peregrinos brasileiros, está deveras enganado! E se alguém souber quem foi, que peça para que ele leia isto aqui, e venha tirar satisfações comigo. Quero publicar o NOME deste filho da puta aqui.

A Oficina do Peregrino não te fala nada a respeito do caminho até Finisterre, pois para eles a peregrinação termina em Santiago. Indicam que você vá até a Oficina de Turismo, que é na mesma rua, uns 400m abaixo. Lá, te passam um mapa e indicam o trajeto até a estrada. Estrada? Perguntei se havia setas amarelas ou outro tipo de indicação, e a moça disse que não, que não havia nada além das placas normais da estrada.

Comecei a andar, e ao perguntar a uma mulher para onde eu devereia seguir para chegar na estrada, numa bifurcação tripla na frente de uma grande praça, ela disse para eu seguir o muro de pedras, pois ali encontraria o caminho. SURPRESA: Nesta praça existe um tótem com a concha, a marcação de que faltam 89km para Finisterre, e uma flecha amarela! Os funcionários da Oficina de Turismo não sabem porra nenhuma!

Segui as indicações, e senti meus pés, e senti meus ombros, e senti aquela familiar adaga no meio da coluna. Eu estava de volta ao Caminho e à minha penitência!

Cheguei a Negreira e encontrei Peter, Javi, Gemma e Maurício num bar. O albergue estava lotado, e dormiríamos no gramado ou aonde desse. Deu a louca no Maurício, e ele comprou comida e vinho para cozinhar para a galera. Um belo jantar.

Dormi no chão da varanda. Pelo menos ali eu estaria protegido se chovesse, o que estava ameaçando mas não vingou.

Total percorrido hoje: 21km

sábado, julho 15

25/06 - Santiago de Compostela

Choro: dia dois. Dia de encontros. Dia de reencontros. Dia de despedidas.

10h30 às 22h00 - Dani pegou o avião de volta pra casa, mas não tinha dinheiro suficiente para transportar Pipa, que ficará agora com Erin. Rien, o holandês que eu via desde Saint Jean Pied-de-Port, se despediu com lágrimas nos olhos. Robert, o outro holandês, do "fellowship of the Camino", acabara de voltar de Finisterre, com um brilho diferente nos olhos, e uma barba mais densa. Norma, do Rio, não parava de chorar ao se despedir de todos. Nick e sua namorada, que eu via desde Roncesvalles, me deram boa sorte para a viagem do dia seguinte. Uma das Martas voltará no dia seguinte para Zaragoza. Muitos outros, que não lembro os nomes, revi e me despedi. Muitos outros, que eu também gostaria de reencontrar, deixei apenas em pensamento meus abraços. Karin terá que ir de ônibus à Finisterre, pois levou uma picada que parece ser de aranha na perna, que está inchada com uma infecção. Maurício, do sul do Brasil, mora há 14 anos em Portugal, e fez o Caminho de bicicleta, de forma bem diferente dos ciclistas normais. Ele não pegou nenhuma estrada, seguiu todas as flechas amarelas, e recolheu lixo. Isso mesmo. De Saint Jean Pied-de-Port até Portomarín, ele juntou 80 sacos de lixo. Latas, pets, embalagens de qualquer espécie, bitucas e caixinhas de cigarro, papel higiênico, e outros podres. Virou lenda no Caminho. E fez algo que todos deveriam fazer. E deu exemplo. E ganhou os meus parabéns.

12h00: Missa dos Peregrinos - Ouvir que no dia anterior, chegara em Santiago um brasileiro que partira de Saint Jean Pied-de-Port foi muito emocionante para mim. Era eu! A Catedral de Santiago é gigantescamente absurda. Uma maravilha ornada de mármore, madeira e ouro. E esperança. E uma energia fantástica. E o bota-fumero é a coisa mais hipnótica e maviosa do mundo. Ver um turíbulo de 1 metro e meio balançando como um pêndulo por toda a Catedral, do chão ao teto, é inenarrável. Por motivos meus, que não tenho a mínima certeza do porquê, não fotografei o interior da Catedral. Deixei isto para os turistas, que eram muitos, ali.

24/06 - Santa Irene até Santiago de Compostela

Acordamos e começamos a separar nossas roupas. Finalmente, meias e cuecas limpas!

Começamos a andar eu, Pipa, Dani, Erin, Domenico, as Martas e Peter. Andamos em silêncio, cada um fechado em seu universo, cada um tentando descobrir o por quê de realizar o Caminho e o que aconteceria na volta para casa, cada um triste em si porque tudo acaba, um dia.

Cada um andou num ritmo, lentos correram, rápidos andaram devagar, mas conversávamos por celular para descobrir a quantos quilômetros cada um estava de Santiago. Peter sumiu, na frente. Domenico, Dani, Erin e Pipa aguardaram os retardatários a 1km da Catedral. Encontramos Leen e Kate e nos despedimos delas, pois estavam indo para La Coruña, playa.

Juntamos o grupo, e começamos a andar. Este deve ter sido o quilômetro mais lento de nossas vidas. Numa praça, avistamos as torres da lateral esquerda da Catedral. Abraços e choros nos tomaram uns 10 minutos. É uma sensação inexplicável: alegria, tristeza, desespero, medo, coragem, alívio, amor, tudo expelido em forma de lágrimas e gargalhadas. Parece um sonho. Parece que estamos flutuando, que não existe mochila pesada, nem dores nos pés...

Andamos mais um pouco e chegamos na frente da Catedral. Mais choros e abraços e gargalhadas. Sentamos em roda na praça, e ficamos admirando a arquitetura e tudo o que aquilo representava por umas 2 horas. Peter, Javi, Gemma e Dário nos encontraram.

Achamos um lugar para ficar, tomamos banho e nos reunimos na Oficina do Peregrino, para pegar nossas Compostelanas, nosso diploma de peregrinos. Depois, jantar, bar e fiesta! Dançamos até o amanhecer. Cumprimos nossas metas. Para alguns, como eu, a primeira parte da meta. Amanhã, descanso. Dia seguinte, mais estrada em direção à Finisterre.

Total percorrido hoje: 25km

23/06 - Ribadiso de Baixo até Santa Irene

Acordamos tarde. Está cada vez mais difícil começar a andar. Ninguém quer chegar em Santiago...

Paramos para tomar café, e depois todos seguiram na frente, deixando eu e Domenico para trás. Andamos mais devagar, e iniciamos uma conversa-exorcismo. Falamos sobre todos os nossos problemas da vida, do trabalho, do amor, da família, dos amigos, das tentativas, dos fracassos, dos erros, dos defeitos, tudo de ruim que vinha às nossas cabeças, a fim de deixar na estrada tudo o que nos fizesse mal. Nisto, paramos num trecho da floresta que parecia um altar, com grandes pedras e árvores dispostas como se tivessem vida. Foi ali que exorcisamos nossos males. Ajoelhei na mata, agradeci a Deus pela leveza conquistada, abracei árvores, encontrei o meu lugar quando decidir virar uma árvore, essas coisas de doido...

Encontramos Dani e Erin no albergue. Eles pegaram um táxi para nos alcançar, e traziam uma nova amiga: Pipa. Eles pegaram um dos filhotes que haviam nos oferecido ontem. Javi, Gemma e Karin decidiram andar um pouco mais. Nós ficamos por ali, mesmo.

Fizemos uma "vaquinha", e juntamos as moedas suficientes para lavar e secar a roupa do grupo. Finalmente! Saímos todos para jantar sem meias, hehehe. Depois do jantar, paramos para conversar com uma família gallega. Era noite de São João, e eles estavam reunidos em frente a uma fogueira. Ficamos uma meia hora, ali. É muito interessante conversar com moradores das cidades pequenas, e desfrutar da cultura, simpatia e simplicidade que eles oferecem com seus sorrisos.

Pegamos a estrada de volta no escuro, e fomos dormir. Amanhã é o Grande Dia. Amanhã chegaremos em Santiago de Compostela. Dá medo. Dá alegria. Dá tristeza. Dá ansiedade. Dá uma mistura de todos os sentimentos...

Total percorrido hoje: 19km

segunda-feira, julho 10

22/06 - Pontecampaña até Ribadiso de Baixo

Tive que usar uma bermuda de lycra como cueca, pois não tenho mais roupas limpas. Aliás, ninguém da turma tem mais roupas limpas. Precisamos urgentemente de uma lavadora/ secadora...

Hoje é um dia empolgado para mim e Domenico: jogo do Brasil e jogo da Itália. Saímos na frente de todos, hoje, e andamos muito rápido. Só uma Copa do Mundo para fazer este milagre.

Chegamos eu, Domenico e Peter, em Melide, do meio do 1º tempo de Itália X Rep. Tcheca. Como são 5 horas de diferença de fuso, aqui o jogo começou às 16h00. Paramos num bar e aguardamos os outros chegarem.

Na saída da cidade, um morador nos ofereceu um filhote de cachorro. A tentação foi grande, mas não aceitamos. O que faríamos com ele quando acabasse a viagem? Andei rápido, pois agora era a minha vez de chegar a tempo de ver o jogo. Passei todos, e superei ainda mais a dor. Quase chegando a Ribadiso de Baixo, a Jô me manda um SMS dizendo que o Japão havia feito um gol. Fiquei puto! Andei mais rápido ainda, e encontrei um bar. Havia 3 brasileiros por lá, um da Moóca, SP, um de Novo Hamburgo e um de Brasília. Não lembro seus nomes. Tirei minha bandeira da sorte da mala, e logo depois o Brasil empatou. Os outros chegaram quase no começo do 2º tempo. É, andei rápido mesmo!

Como chegamos tarde no albergue, não havia mais vagas. Karin, Javi e Gemma dormiram na grama. Eu, Domenico, Peter e as Martas preferimos dormir numa área coberta. Dormir num chão de pedras é desconfortável, mas já estou me acostumando com essa vida...

Total percorrido hoje: 22km

21/06 - Ventas de Narón até Pontecampaña

Ressaca. 11h00, e estávamos ainda no bar do albergue, tomando café. Chegaram de outros lugares, Rien, as Martas, Sharyar e sua mãe, e o trio Bernardette, a alemã, a americana e a holandesa que não lembro dos nomes. Como nós, elas também peregrinavam de bar em bar. Esta fama nos rendeu a patente de "baregrinos". Elas perguntaram para nós daonde partimos hoje, e Peter respondeu: de nossas camas! Todos riram.

Numa parte do caminho, as Martas seguiram reto e não viram a flecha amarela. Javi largou a mochila e saiu correndo para alcançá-las. Enquanto isso, eu e Domenico, com as mochilas nas costas, começamos a jogar hóquei com uma lata que estava no chão. Quase nos matamos. Os dois mais cansados e quebrados correndo com as mochilas foi a morte. Paramos uns minutos para descansar.

Chegamos quase à noite em Pontecampaña, e dorminos numa casa rural, um dos lugares mais bonitos e bem instalados que dormi até agora. Uma grande casa de pedra, decorada basicamente com madeira. Perfeita!

Total percorrido hoje: 16km

20/06 - Barbadelo até Ventas de Narón

Fomos expulsos do albergue, e terminamos de arrumar nossas coisas na rua.

Chegamos em Portomarín. Que entrada triunfal! Um gigantesco lago azul separa a estrada da cidade, unidas apenas por uma ponte de ferro com 1km de extensão, acho. Por lá, reencontrei Rien e Gemma. Gemma disse que encontrou Rasmus há uns dias, e que ele desistira do Caminho: foi para alguma praia da Espanha, a qual não lembro o nome. Enquanto almoçávamos, chegaram Sharyar e sua mãe, e Dani e Erin.

Resolveram dormir em Portomarín as Martas, Dani e Erin. Eu, Domenico, Javi, Peter, Karin, Gemma e Dario continuamos. Fui conversando com Domenico sobre minha finada banda dos anos 1990, e ele contou da sua, que se reuníra no início de 2006 novamente, depois de 10 anos de separação.

Paramos em Gonzar para reunir o grupo. Depois de meia hora, aparecem os retardatários Peter e Karin, com Leen e Kate. Elas estavam atrás de mim para devolver a grana que emprestei.

Chegamos em Ventas de Narón e ficamos num albergue particular, com ótimas camas e um bar. Não comemos muito bem, e começamos a beber cerveja, e depois vinho. Em um certo momento, nos demos conta de que faltavam menos de 80km para chegarmos em Santiago, isto é, nem 5 dias para o fim. Choramos e bebemos, eu, Domenico, Peter, Karin, Javi e Gemma. Karin foi dormir, e continuamos a beber. É muito estranha a sensação de fim. Uma hora acaba, mas ninguém quer que acabe. Resultado: 9 botellas, lê-se botêias, garrafas, de vinho, e todos bêbados que nem vacas. Dormi abraçado na privada. Sorte que Gemma e Javi ouviram roncos do banheiro, e a porta estava destrancada. Me lavaram o rosto e me puseram na cama.

Total percorrido hoje: 30km

19/06 - Monasterio de Samos até Barbadelo

Acordamos tarde, e seguimos para Sarria. Chegamos durante a siesta, e ficamos por lá até as lojas abrirem novamente. Leen e Kate ficaram por lá, para resolver o problema da grana. Os outros seguiram na frente, e eu e Domenico fomos atrás de uma farmácia. Somos conhecidos como "os lentejas" (lê-se lenterras - um trocadilho: lenteja significa lentilha, mais serve para nos chamar de lentos). Domenico diz que não tem carimbado sua credencial nos albergues: só pega os carimbos das farmácias. Ele é o hipocondríaco da turma.

Chegamos em Barbadelo, e encontramos os outros deitados na grama de uma praça. O albergue estava cheio, e teríamos que dormir na grama. Sentamos para beber num trailer, e o dono bateu um papo com a hospitaleira, que ofereceu a sala do albergue para dormirmos.

Quando eu descia a rua para levar minhas coisas ao albergue, ouvi meu nome e uma voz conhecida, mas antiga. Da única cabine telefônica do pueblo, avistei Katrin, a alemã que se separou de mim e Karen em Nájera, há 20 dias. Ela largou o telefone e correu pra me abraçar. Os reencontros são muitos doidos e inesperados. Me disse que andara com sua mãe por uns 10 dias, que depois seguiu com uma nova turma. Marcelo estava com ela. Me disse também que Robert chegaria amanhã em Santiago - rápido pra cacete. Esta seria a última vez que eu veria Katrin e Marcelo no Caminho.

Demoramos quase uma hora para conseguir pegar no sono. Não parávamos de rir. Éramos oito, dormindo numa sala apertada, sem condições de virar para o lado, ou achar uma posição decente para colocar o braço. Dormimos mal pra caralho. Mas foi uma experiência muito divertida.

Total percorrido hoje: 18km

18/06 - Fonfría até Monasterio de Samos

Fomos os últimos a sair, como sempre. Enquanto tomávamos café, nos alcançaram, de outras cidades, Dani e Erin, Leen e Kate, sua amiga inglesa, e Sharyar e sua mãe, panamenhos muito simpáticos. É a quarta vez que a mãe de Sharyar faz o caminho, e disse que queria realizá-lo com seu filho, pois talvez poderia ser sua última viagem. Sharyar deixou sua esposa e filha no Panamá, e a acompanhou.

Durante o café conhecemos duas Martas, de Zaragoza, que começaram a fazer parte da nossa turma. Saímos todos juntos. Paramos em Triacastela para comprar algo para comer. Leen e Kate não conseguiram tirar dinheiro no banco, pois o caixa estava quebrado. Ligaram para suas casas, e conseguiriam uma remessa de dinheiro só para dia seguinte. Emprestei a elas o suficiente para sobreviverem, e seguimos.

Estávamos sentados numa área de descanso no meio de uma floresta, quando vi que já era 17h00, e em uma hora começaria o jogo do Brasil X Austrália. Faltavam 7km até o Monasterio de Samos. Larguei todos ali e comecei a correr. Nunca andei tão rápido. Esqueci que levava um grande peso nas costas, e até desencanei um pouco da dor nos pés... uma hora, acostumamos.

Cheguei ao Monastério de Samus! No primeiro bar, passava uma tourada. Perguntei aonde poderia ver o jogo, e o cara falou que seria impossível. Fiquei desesperado, e procurei outro bar: tourada. Andei quase 1km e cheguei na frente do monastério, aonde havia o albergue, e o último bar do pueblo. Entrei, e na TV passava a mesma maldita tourada. Como o bar estava vazio, pedi para a dona mudar para o jogo, e consegui ver o 2º tempo inteiro e os dois gols do Brasil.

Compramos umas coisas para comer, e "cenamos" na beira de um rio, eu, Dani, Erin, Domenico, Javi e as Martas. Apareceram Karin, Dario e Leen para dizer boa noite, e avisar que a porta do albergue estava para fechar. Corremos e conseguimos entrar.

Total percorrido hoje: 19km

sábado, julho 1

17/06 - Vega de Valcarce até Fonfría

Já saí de capa, pois estava chovendo. Isso nao vai parar nunca?

Em Ruitelán reencontrei todos: Karin e Dario, um italiano que eu conhecera na Cruz de Ferro, e que dormiram no albergue brasileiro, e Domenico, Javi, Erin e, por coincidência, Dani, o catalao. Era ele que procuravam. Isto no caminho é muito engraçado. Os encontros e desencontros.

O Cebreiro. A subida é dura, sim, mas a paisagem compensa, e muito. É aqui que nos despedimos de Castilla y León e entramos na Província de Lugo, que faz parte da Galícia. Montanhas, vales, pequenos pueblos no meio do nada, árvores e flores. Maravilha! O pueblo d'O Cebreiro é uma antiga cidade celta, com uma atmosfera mágica em tudo o que você vê. Foi num bar ali que experimentei pela primeira vez o pulpo gallego. Saborosa carne de polvo, com muito azeite e pimenta vermelha em pó, e pao e muita cerveza.

Seguimos adiante. Depois de descer O Cebreiro, subimos até o Alto do Poïo, aonde há uma grande estátua de um peregrino. Disseram que eu era um clone perfeito da estátua. Tiramos fotos imitando a estátua, e até um turista tirou uma foto minha, hehehe.

Chegamos em Fonfría quase no fechamento do restaurante. Jogamos nossas coisas no chao e fomos comer. Depois, ficamos conversando com dois hospitaleiros brasileiros: Marcelo, da Bahia, que está estudando em Santiago, e Regiane, de Campinas, que depois de terminar o caminho resolveu trabalhar em alguns albergues por umas semanas. Bebemos chupitos, rimos falando do filme A Vida de Brian, e fomos dormir.

Total percorrido hoje: 17km
Curiosidade: a soma total dos quilômetros percorridos incluindo hoje é 666km

16/06 - Cacabelos até Vega de Valcarce

Acordei relativamente bem, e saí. Depois de somente 50m, parei com fortes dores nos pés. Tive que tomar uma decisao, e tomei. Tirei todo o jornal que havia socado em minhas botas desde León, e as coloquei. Nao podia ter tido idéia melhor. Já havia esquecido do seu conforto, sua segurança ao caminhar em cima de pedras soltas, sua maior proteçao, e as bolhas que tudo isso causaria. Seja bem-vinda aos meus pés novamente, fiéis e pesadas botas, que ajudaram a detonar minhas costas com o peso em demasia na mochila...

Em Trabadelo, reencontrei Peter, que nao via desde León, com novos amigos: Domenico, um italiano que mora no México, Javi, um espanhol de Bilbao que tem um hotel em Asturias, e Erin, uma americana que mora um pouco na Espanha e um pouco em Filadélfia. Seguimos juntos. Nao podia ter feito coisa melhor. Em poucos minutos, ganhei grandes amigos.

Parei em Vega de Valcarce, pois queria dormir no tao famoso albergue brasileiro, o Nossa Senhora do Brasil. Os outros seguiram para a próxima cidade, pois um amigo deles os aguardavam. Nos despedimos, e combinamos de nos encontrar em algum bar, o lugar mais provável para achá-los.

O albergue brasileiro. Nao gostei. Achei totalmente fake. Fábio, de Goiás, é um cara super gente fina. Conversa com você, é simpático e solícito. Já Itabira, também de Goiás, e dono do albergue, é muito estranho. Nao sei se estava num mal dia, mas me pareceu prepotente, e sem nenhum espírito de Caminho. Ele está lá mesmo é pela grana. Foi o que me pareceu. Ele te trata como se você fosse um retardado, passando as regras e repetindo tudo de um jeito como se fôssemos deixar um rastro de baba por todo o "seu" albergue. Muito estranho. Achei insípido demais o lugar, por causa dele.

Total percorrido hoje: 27km

15/06 - Molinaseca até Cacabelos

Acordei relativamente bem, e fui caminhando tranqüilo até Ponferrada. Encontrei Colin e Selena, e seguimos juntos. Quase na entrada da cidade, a flecha amarela indicava para a esquerda, e a estrada seguia direto a Ponferrada. Colin e Selena seguiram em frente. Eu, decidi seguir a flecha. PÉSSIMA idéia. Devo ter andado uns 5km a mais que eles, pois o Caminho passa por mais 2 pueblos ANTES da entrada velha de Ponferrada. Mas mesmo assim, nao quero atalhos no MEU caminho, quero percorrê-lo centímetro por centímetro, mesmo que seja doloroso e cansativo. E isso vale para toda a minha vida. Aprendemos muitas coisas por aqui...

Avistei o Castelo dos Templários. Que coisa! A chegar lá dentro, encontrei Colin e Selena já saindo, e dizendo que estavam me esperando a umas 2 horas. Ri com eles das minhas dores, e fui degustar o Castelo. Digo degustar, porque é uma experiência fantástica imaginar o que aconteceu perto de cada pedra daquelas construçoes. Quantas flechas passaram por cada vao próprio para o ataque. Quantas pessoas viveram em cada aposento. Quantas espadas se encontraram numa luta. Quantas vidas e quantas mortes...

Saí de Ponferrada às 15h00, tarde pra caralho, mas valeu a pena. Mais ameaça de chuva, e toca colocar a capa da mochila e preparar a capa do corpo.

Eu queria parar em Camponaraya, mas nao havia albergue, hostais, hotéis, porra nenhuma. Fui obrigado a seguir mais 4km até Cacabelos.

A Penitência. Ao deixar Camponaraya, começou a chuva. Aqui chamam de tormenta, e eu achei muito apropriado para aquele meu momento. Muito vento, minha capa voava para todos os lados, a chuva gelada trincava meus doloridos pés, a dor nao me permitia caminhar mais rápido, e a chuva apertava cada vez mais. Em certo momento, eu era o ponto mais alto dentro de um vinhedo, e raios caíam com uma freqüencia desesperadora. Coloquei o cajado para baixo, e caminhei e comecei a chorar. Devo ter rezado um terço inteiro, me sentindo a coisa mais insignificante do Universo, um pontinho irrelevante frente ao infinito, algo que nao faria falta a ninguém se um raio fritasse meus miolos. Depois de um tempo, agradeci por toda Sua obra, as fantásticas visoes da tempestade que eu via, sem poder fotografar para nao detonar a câmera, e rezei agradecendo pela minha vida, por meus olhos, ouvidos, pernas, pés e saúde, e por todos que eu amo e por todos que me amam e se importam comigo. Esta foi a uma hora mais longa de toda a minha existência. Cheguei morto em Cacabelos, com milhares de novos "cacabelos" brancos, nao conseguindo quase colocar meus pés no chao, mas depois, percebi que havia sido abençoado. Me disseram que a tempestade que peguei foi de granizo, e que detonou uma porrada de lugares em Cacabelos. Eu nao fui atingido. Eu fui presenteado com a minha vida. E eu aprendi a me amar, como nunca me amara desde que nasci.

Total percorrido hoje: 23km

14/06 - Rabanal del Camino até Molinaseca

Como sempre, fui um dos últimos a deixar o albergue. Comecei o caminho apreensivo, pois o primeiro lugar a passar hoje seria Foncebadón, um lugar que ouvira muitas histórias assustadoras. Decepçao. Foncebadón é um pueblo como qualquer outro, com bar e até um albergue. Nao senti nenhuma energia negativa, e nao fui atacado por nenhum cachorro. Aliás, os cachorros sao muito tranqüilos, até agora. Dóceis e simpáticos.

A Cruz de Ferro. Cheguei por lá e tirei a mochila para pegar a pedra que havia trazido do Brasil. Diz a lenda que ao jogar uma pedra que trouxe de sua casa aos pés da cruz, você se livra de todos os pecados e males da sua vida, e caminha renovado para uma nova vida. Que energia tem esse lugar! Chorei como uma criança, rezei e transferi para a pedra tudo o que me angustiava, e pedi para que me tornasse uma pessoa melhor, livre de culpas inexistentes, aberto a novos campos de trabalho e novas perspectivas neste maldito mundo capitalista. Depois de atirá-la aos PÉS da cruz (e nao na cruz, viu, Rê?), me senti muito bem, as dores dos meus pés aliviaram, minhas costas doeram menos, e a mochila pareceu muito, muito mais leve. Chorei de felicidade por quase mais 1km.

Cheguei a Molinaseca com os pés em frangalhos, desesperado e andando muito devagar. Fiquei puto. O albergue era 1km depois do fim da cidade. Isso é uma merda, no caminho. A maioria dos albergues estao no final da cidade, e depois de chegar cansado, você tem que voltar mais 1 ou 2km para encontrar um supermercado.

Total percorrido hoje: 26km

13/06 - Astorga até Rabanal del Camino

Me despedi de Lucas, pois sua jornada era mais longa que a minha, e aguardei os correios abrirem, às 09h00. Postei quase 2kg para Santiago, comprei calcanheiras de silicone para a papete, e um moleton novo, pois o meu eu dei falta em San Martin del Camino. Provavelmente ele ficou em alguma cadeira de bar em León. Minha lembrança de Astorga: um moleton escrito Minnesota University, hehehe. Hilário.

Visitei o Palácio Episcopal de Astorga, projetado de Gaudi. Me preocupei mais com a arquitetura do que com as obras de arte. Gaudi é gênio. Mínimos detalhes fabulosos, grandes detalhes fantásticos! Suas construçoes parecem que têm vida própria.

Deixei Astorga âs 12h00, um pouco atrasado, mas chegaria a tempo de ver o jogo do Brasil, que seria às 21h00.

Chuva, dia dois. As calcanheiras estao ajudando bastante, mas ainda preciso parar de pueblo em pueblo para descansar um pouco da dor.

Cheguei a Rabanal del Camino às 18h30, com folga pra tomar uma bela ducha, comer e me preparar psicologicamente para o meu primeiro jogo de Copa do Mundo longe do Brasil. Praticamente todos que estavam no albergue foram ao bar ver o jogo. De conhecidos, haviam Colin e Selena, Leen, Karin, Robèrt, um canadense que conheci em San Martin e um japonês idem, que nao me lembro do nome.

Saquei a minha bandeira da sorte, e todos tirarm fotos minhas com ela. Eu era o ÚNICO brasileiro naquele bar. É muito estranho. Quando o Brasil fez um gol, levantei e gritei com todos os meus pulmoes... Todos ficaram parados, olhando para mim como se eu tivesse tirado toda a roupa em cima da mesa. Olhei para todos e gritei Êêêêê! Eles responderam rindo. Alguma reaçao de comemoraçao, finalmente. O albergue fecharia às 22h00. Disse que dormiria no bar. A hospitaleira foi gente boa, e até viu o jogo conosco. Fechou o albergue às 23h00. O "jeitinho brasileiro" funciona na Espanha!

Total percorrido hoje: 21km

12/06 - San Martin del Camino até Astorga

Acordei muito bem, e com disposiçao para andar até Santiago. Tomei um belo café e comecei a andar. Depois de alguns dias, este foi o meu ritmo mais rápido pela manha.

Um pouco antes de chegar em Hospital de Orbigo, conheci Leen, uma belga que trabalha com crianças numa escola na Escócia. Paramos para comer e encontramos Rien e Gemma, que andariam apenas até a próxima cidade. Seguimos adiante.

Chuva! Meu primeiro dia de chuva no caminho. Toca aprender a colocar a capa na mochila, e enfiar a capa de chuva por cima de tudo. Ô troço quente. Papete ensopada, meias idem.

Numa trégua da chuva, paramos para descansar e conhecemos Lucas, um paulista que é músico experimental. Uma figura zen, que começou em Saint Jean uma semana depois do meu início, que andava uns 40km por dia, apreciando a vista e chegando no destino do dia quase sempre ao anoitecer.

Andamos juntos até Astorga, molhados, cansados, doloridos e mortos de fome umas 20h00. Tomamos uma ducha quente, jantamos e fomos dormir.

Total percorrido hoje: 26km

11/06 - León até San Martin del Camino

Demorei umas três horas para sair de León. Passeava devagar por suas ruas e avenidas, e igrejas e monumentos, e cafés e pontos turísticos, e tudo o mais. Me despedi com tristeza desta cidade, mas tive uma real sensaçao de que voltarei aqui novamente, qualquer ano desses.

Em La Virgen del Camino, encontrei Colin e Selena, o simpático casal da Califórnia, e seguimos juntos. Eles pararam em Villadangos del Páramo, mas eu queria mais. Mais dolorosos 4km até San Martin del Camino. Levei umas duas horas para percorrer um trecho muito curto, mas cheguei. Sentei numa cadeira para tomar um Aquarius, o Gatorade daqui, e dormi. Capotei. Tomei um banho e fui comer o menu do peregrino que o albergue oferecia. O melhor do caminho até agora. Pelo preço normal, uns €9,00, tive o mais completo e lauto jantar. Chorizos em rodelas como aperitivo, uma sopa com macarrao, um prato de sopa cheio de alface, outro prato de sopa lotado até a boca de batatas fritas, mais um ovo frito, fatias de lombo e um pimentao. Deixei mais da metade das batatas. Impossível. Depois, rodelas de abacaxi, um balde de café com leite e... chupito! Chupito é um digestivo, tipo o nosso "licorzinho" no final do jantar. A mulher colocou na minha mesa um copo e duas garrafas: uma, com Orujo de Hierbas, com a graduaçao alcoólica da nossa cachaça, mas com um sabor semelhante ao licor Stregga, e outra de Orujo Blanco, que lembra muito grappa, fortíssimo. Uma beleza!

Dormi como uma criança!

Total percorrido hoje: 26km

09/06 - Mansilla de las Mulas até León

Parei na próxima cidade para tomar café e tirar um pouco a papete. Tá foda. Se a recepçao em León for boa, ficarei um dia lá para descansar. Depois de Burgos, estou com trauma de cidades grandes...

Caminho monótono novamante. Sao as Mesetas, um planalto do norte da Espanha. Retas intermináveis, e sem uma mínima curva. Praticamente toda Castilla y León é assim.

Cheguei em León. Uma cidade grande, mas com um espírito e energia infinitamente melhores que Burgos. Paixao à primeira vista. Dá vontade de mudar definitivamente para cá hoje mesmo.

Perguntando aqui e ali, consegui chegar ao Barrio Umedo, a parte velha da cidade. A Catedral de León deveria figurar entre uma das Maravilhas do Mundo. Uma visao das portas do Paraíso. Por dentro, mais surpresas: cada buraquinho que vemos por fora, é um detalhado e colorido vitral, por dentro. É difícil nao ficar de queixo caído com tamanha beleza. Fiquei por lá umas duas horas, entre percorrer cada centímetro dos infinitos detalhes e um cultural passeio pelo museu.

Encontrei Dani, Inez, Peter e Gemma, e fomos comer tapas, as nossas porçoes. E levamos um tapa na cara com a conta, um tanto superior para a nossa rotina humilde de peregrinos...

Fomos beber e dançar. Fiesta! Amanha é dia de descanso.

Total percorrido hoje: 21km

08/06 - Bercianos del Real Camino até Mansilla de las Mulas

Mais caminhadas chatas hoje. Uma reta interminável, com estrada do lado direito e uma árvore a cada metro do lado esquerdo. É bonito, mas andar 7km vendo a mesma coisa é um saco. Parei em El Burgo Raneros para tomar algo, pois teria mais uns 11km sem nada pela frente.

Doloroso. Tudo incomoda. Nao tenho mais posiçao confortável para andar sem que sinta alguma dor. Tira tornozeleira, poe tornozeleira, poe palmilha da bota, tira palmilha da bota, tira tornozeleira e aperta um pouco mais o pé com uma faixa... tou pensando seriamente em voltar a usar as botas...

Cheguei em Reliegos e bebi cerveja, San Miguel, deliciosa! Encontrei Rien e Marcelo, e batemos papo por um tempo. Eles ficariam por lá, e eu queria andar um pouco mais, mesmo com os pés em frangalhos. Muitas vezes, a gente vai até onde nossos pés conseguem. Outras vezes, vamos até aonde nossa intuiçao quer, doa a quem doer. Coisas do Caminho...

16h00. Sol mortal. Só um louco anda numa hora dessas. Prazer: André.

No albergue, em Mansilla de las Mulas, conheci um letonês que terminava sua jornada ali. Saiu a pé, da Letônia, 5 meses atrás. Fez o caminho até Finisterre, e voltou tudo a pé. Tem neguinho mais louco que eu no mundo...

Total percorrido hoje: 26km

07/06 - Terradillos de los Templarios até Bercianos del Real Camino

Comecei a andar só, algo comum para mim. Pela manha, com os pés frios, caminho num ritmo bem lento, e os outros me passam fácil. Ao longo do dia, caminho melhor, até que meus pés gritem para que eu pare...

No meio do caminho, me despeço da Província de Palencia e entro na Província de León.

Paramos em Sahagún para conhecer a cidade. Show. Entramos numa igreja construída em 1300, com esculturas de madeira em tamanho natural representando a Via Sacra. É incrível estar perto de algo que foi construído ANTES do descobrimento do Brasil...

Mais 11km até a meta do dia, em baixo de um causticante sol. Eu e Gemma andamos o mais rápido que podíamos para chegar logo e descansar.

O albergue de Bercianos é o mais rústico até agora: por fora pedras, e por dentro um tipo de pau-a-pique. Abaixo, piso de pedra, no piso de acima, madeira. Cama confortável, ducha quente, perfeito!

Vi uma missa realizada em FRANCÊS, comemos todos juntos, umas 25 pessoas, entre peregrinos e hospitaleiros, e fomos todos para fora para ver, o que dizem por lá, o mais bonito pôr-do-sol do Caminho. Todos em silêncio, apenas Milan tocando violao numa língua ininteligível, e o fim do dia. Bonito. Um balé de pássaros completavam o espetáculo.

No albergue conheci dois espanhóis: Dani, um catalao, Inez, da Cantabria. E reencontrei Norma, a carioca que havia conhecido há uns dias.

Total percorrido hoje: 24km

06/06/06 - Carrión de los Condes até Terradillos de los Templarios

Tomei café na praça com Gemma, e começamos a caminhar. 17km sem NADA até o próximo pueblo. Gemma acelerou e fiquei para trás. Encontrei Ali, e fomos conversando. Sua amiga estava mais rápida, e a esperaria em Calzadilla de la Cueza.

Ao chegar lá, a primeira coisa que precisava era de uma caña, lê-se cânha, o nosso chopp. Faltavam 10km até Terradillos...

Muito sol e nada de sombra. Me senti no Saara. Transpiro em bicas. Se espremer minha camiseta, recarrego minha garrafa de água.

Chegamos, e fomos tomar... cerveja! Ficamos conversando com Gemma, Rien, Robert, Peter, um alemão muito divertido, e Nick e Tim, dois irlandeses loucos que estão fazendo o Caminho vestidos com grossas roupas de monges, para parecer peregrinos reais. Doidos de pedra. Com esse calor, se eu usasse aquilo seria suicídio.

Duas horas na internet atualizando o blog, comida e cama.

Durante o jantar, conheci Shun, um japonês que estuda na Europa, e decidiu fazer o caminho para ver como era. Com um inglês restrito, tem sobrevivido. É o primeiro oriental que encontro no caminho.

Total percorrido hoje: 27km

05/06 - Población de Campos até Carrión de los Condes

Depois de uma noite fria entre as estrelas, acordei resfriado. Meu nariz era uma cachoeira. Tomei outro antigripal e comecei a arrumar as coisas. Segunda-feira preguiçosa...

Fui o último a deixar o albergue, e andei devagar, pois meus pés me matavam. Parei em Villarmentero de Campos para descansar. Logo depois aparece Rasmus, também preguiçoso. Tomamos umas cervejas e seguimos viagem.

Um dia muito chato para caminhar. Entre os pueblos, temos uma infinita estrada reta, e a cada 500m tótens com uma concha, para indicar o Caminho. Um saco. Avistamos o outro pueblo logo no começo da caminhada, mas andamos e andamos e nunca chegamos... Para passar mais rápido, Rasmus sacou seu violão e eu adaptei o kazzoo para virar uma gaita, e tocamos por uma meia hora o "Blues do Caminho".

Em Villalcázar de Sirga, encontramos Robert, e depois apareceu Marcelo, o brasileiro que não tínhamos notícias desde Logroño. Tivera uma infecção, e ficara 2 dias descansando. Sua marcha é muito mais rápida que a nossa.

Carrión de los Condes é uma bela cidade, com praças arborizadas e construções de pedra. Lá encontrei Robert, Karin, Gemma e Milan, e reencontrei Rien, Maria, e Rachel e Ali, duas americanas que estudam no Novo México.

Fui dormir cansado, com os pés em frangalhos.

Total percorrido hoje: 18km

04/06 - Castrojeriz até Población de Campos

Acordei com tosse e um pouco de dor de garganta. Tomei um antigripal pra prevenir, e fui tomar meu desaiuño, café da manhã, com Gemma e Milan, um cara da Rep. Tcheca que conhecemos ontem. Como meus pés estão doloridos, eles andaram muito mais rápido.

Nem meia hora de caminhada, e tive que subir a Cuesta de Mostelares, uma PUTA subida, mas com paisagem muito rica. Mais feno por todos os lados, e uma PUTA descida...

Parei na frente de uma fonte em Boadilla del Camino. Lá, fiquei por umas duas horas, almoçando e atualizando o meu diário, regado à água fria da fonte e uma garrafa de tinto da Rioja que eu carregava na mochila.

Um trecho do caminho fazemos ao lado do Canal de Castilla, uma bela paisagem, com muito mato, barulho de água, sapos e pássaros. E insetos e outros bichos. Muitos insetos e outros bichos. Já me acostumei com eles. As aranhas passeiam nas minhas pernas, braços, mochila, e apenas as pego e devolvo à grama. Outro dia, um besouro tomou carona no meu braço por uns 2km...

Cheguei a Frómista e encontrei o albergue. 15 camas livres. Nao sei porquê, mas resolvi andar mais 4km até a próxima cidade.

Cheguei a Población de Campos, e o albergue estava cheio. Karin já havia montado acampamento no gramado, e me juntei a ela. Depois apareceu Gemma, também. Rasmus, Bethany e Emily, uma americana que conhecera há uns dias, resolveram dormir numa praça.

No meio da noite, acordei e vi, entre as árvores, a Via Láctea. Esta é uma das vantagens de dormir ao relento... Mas ao relento, com a estrutura de um albergue é muito melhor, pois temos ducha e banheiro e cozinha incluídos no pacote, hehehe.

Total percorrido hoje: 28km

quinta-feira, junho 15

03/06 - Arroyo San Bol até Castrojeriz

Acordei quase 09h00, bem atrasado para a rotina do Caminho. Tomamos café, ajudamos a arrumar a bagunça do jantar e virei hospitaleiro por uns 20 minutos: carimbei a credencial de uns peregrinos curiosos, e indiquei a "fuente". Foi divertido. Deixei uma mensagem no caderno de visitas que passarei minha aposentadoria como hospitaleiro em San Bol.

Saímos eu, Robert e Bethany. A mesma paisagem de ontem: caminho de terra e feno e calor. Muito calor.

Um pouco antes de Castrojeriz, há o que sobrou do Convento Sán Anton, aonde funciona agora um albergue de peregrinos. O pai de Bethany canta num coral, e participa de concursos. Bethany cantou, nas ruínas, Ave Maria num razoável latim. Foi uma música bem apropriada para o que víamos alí. Bonito.

Chegamos em Castrojeriz! Tomei um merecido banho de 20 minutos e fui lavar minha roupa, que estava acumulada e fétida. Na cidade, fiz compras pra janta e pro café, e gastei 4 euros em 1 hora de internet. LADRÕES! Só consegui atualizar 3 dias no blog... tou atrasado com isso... hehehe

Castrojeriz é uma tripa. Uma rua apenas, com uns 2km de extensão. Uma cidade muito estranha...

Total percorrido hoje: 17km

02/06 - Burgos até Arroyo San Bol

Saí de Burgos acompanhado de Bethany, uma americana que havia conhecido há uns dois dias. Mais conversação em inglês... vou voltar craque pro Brasil, hehehe.

Paramos em Rabé de las Calzadas para comer alguma coisa, e encontrei por lá Gemma, uma holandesa que já via desde Roncesvalles e Manoel, de Madri, que conheci em Zubiri, e, claro, outras pessoas que você conhece de vista, mas nunca sabe ou lembra o nome... é muita gente pra minha cabecinha lembrar.

As estradas neste trecho são uma maravilha: um caminho de terra batida, cercado de montanhas com feno por todos os lados. O vento estava em direçao ao oeste, como o Caminho, e o efeito no feno faz lembrar o mar. Bonito pra caralho!

Numa parada pra tomar água reencontrei Rasmus, e apareceu uma mulher inglesa que eu nunca havia visto. Seguimos juntos, e encontramos, no meio do nada, uma plaquinha indicando uma "fuente", ou fonte, como preferirem. Estava um calor dantesco, e a água estava acabando.

Chegamos a San Bol. Uma casa estranha, com uma cúpula tipo de igreja, uma bandeira escrito PACE, paz, entre as cores do arco-íris, uma piscina e nada mais. Dois loucos nos receberam. Italianos. Perguntamos do hospitaleiro, e eles disseram que não havia hospitaleiro. Estranho. Depois de muita conversa descobrimos que haviam 4: Virgilio e Julio, os italianos, um húngaro e uma espanhola. Encontrei já instalados Gemma, Robert, do "fellowship of the Camino", e uma francesa que nao lembro o nome. Depois chegaram mais pessoas, entre elas, Karin, também do fellowship.

Somente à base de donativos, a casa sobrevive e nos provém de bom vinho e uma lauta refeição, que pede a ajuda de todos para a preparação. Violão, tambores parecidos com atabaques, flauta transversal, um tubo de uns 2 metros que faz um som contínuo - me lembrou algo tibetano, sei lá -, isto é, FESTA!

A casa por dentro é toda pintada com desenhos doudos, e cheia de papéis pendurados. Um deles, que me chamou a atenção e risos, estava escrito: "Paulo Coelho vende chorizos".

Não havia banheiro. Logo, NÃO HAVIA DUCHA! Um cano de água que alimentava a piscina era a nossa reserva de água potável. A piscina era bem gelada, por causa da água de montanha. Por outro cano, caía água para fora, a fim de circular a água da piscina e funcionar como torneira para lavar roupa e tomar banho. Frio. Três dias sem banho é sacanagem, né? Tomei um ridículo banho-de-gato, mas pelo menos lavei um pouco minhas partes vitais, e finalmente troquei de cueca!

Peguei o tambor pra tocar e não larguei mais. A galera me elogiou, dizendo algo como: só podia ser brasileiro pra tocar assim... hehehe. Tocamos antes e depois do jantar. Anoiteceu. Os hospitaleiros nos chamaram para dentro, para o RITUAL.

Luzes apagadas, e um caldeirão com chama azul no meio da sala. Com uma concha, o líquido era mexido e derramado novamente no caldeirão. Virgilio leu uma poesia italiana de boa sorte aos peregrinos e bebemos a poção. Surreal. Mais música e vinho. Fomos dormir umas 2 da matina.

Esta foi a primeira noite que vi a lua e as estrelas da Espanha. Mas não consegui enxergar a Via Láctea, ainda...

Total percorrido hoje: 25km

sábado, junho 10

01/06 - San Juan de Ortega até Burgos

Acordei muito bem! Minha melhor noite de sono até agora no Caminho. Agradeço muito a San Juan de Ortega, que está sepultado no subsolo da igreja. Tentei descer até lá, mas estava tudo escuro, e com a lanterna vi apenas mais um lance de escada de pedra muito úmida e antiga, e um silêncio mortal assustador demais para arriscar a descer... sim, fiquei com medo... subi quase correndo as escadas... hehehe.

Meus pés estão bem melhores! Acho que hoje irei até Burgos! Fui caminhando e cantando, e tocando kazzoo, e seguindo o vento, os pássaros, e as setas amarelas. Quem passava por mim achava que eu era um louco... hehehe. Dei um upgrade no meu cajado, e coloque em sua ponta vários tipos de folhagens que eu encontrava pelo caminho... está horrível, mas eu gostei...

A cada pueblo, meu pé começava a reclamar. Antes de sair enfaixei o pé direito, e agora ele estava doendo.

Resolvi parar em Villafria, uma cidade antes de Burgos. Esqueça! Naquela merda não tem albergue, as pessoas são frias e o único hotel, de nome Buenos Aires, era uma fortuna, e argentino demais... hehehe.

Parei na saída de Villafria para rearranjar meus pés. Cortei metade da faixa do pé direito e coloquei no esquerdo. Tá foda. E eu tenho mais uns 4 km até Burgos. Até a ENTRADA de Burgos.

UM SACO! Uma estrada feia, muitos caminhões, poluição visual e nasal, muitas fábricas. Quero voltar para San Juan de Ortega!

Entrei em Burgos, e parei no shopping para achar uma farmácia aberta - cheguei no meio da siesta, claro - mas no shopping não havia farmácia. Comprei no supermercado um colchonete, para dormir melhor ao relento, mais filmes para a máquina e outros troços fundamentais. PORRA! PERDI MEUS ÓCULOS! FIQUEI PUTO! Meu bom e velho Armani, que me acompanhava já há uns 8 anos... armação com grau e lente escura acoplável... uma grande e triste perda... Aprendi que as coisas materiais são apenas... coisas materiais. Da vida nada se leva, mesmo, apenas carregamos o conhecimento e a sabedoria...

Burgos SUCKS! Me senti como um extra-terrestre, um palhaço, um interno do Juqueri todo cagado, e outras coisas piores. As pessoas me olhavam com repugnância, uma merda! Quero voltar para San Juan de Ortega!!!!!!!!

A cidade é enorme! Andei 7km por dentro dela para encontrar o albergue. Achar setas amarelas nesta cidade é como uma gincana: você fica que nem bobo procurando uma maldita indicação...

Cheguei quase às 20h00 no albergue, e o banheiro estava LASTIMÁVEL, e não tinha porta na ducha para proteger a minha grana. Desencanei. Outro dia sem banho... Amanhã, quem sabe...

Total percorrido hoje: 34,5km

31/05 - Villafranca Montes de Oca até San Juan de Ortega

Dia para descanso: caminhei até o próximo pueblo, apenas. Meus pés dóem muito.

Fiz o trajeto acompanhado de Karen, minha amiga de Liverpool, que reencontrei no albergue, ontem. Robert, o holandês, fez umas pulseirinhas para ele, para mim, para Karen, Karin, outra alemã, e Rasmus. Algo como "the fellowship of the Camino", hehehe. "Go, caminuístas!", gritou Rasmus... para um dinamarquês, até que faz sentido...

Subida e mais subida! Mas pelo menos a paisagem mudou. Floresta, novamente! Uma fria manhã, com cara de chuva.

Chegamos em San Juan de Ortega por volta das 12h00. Me despedi da galera do "fellowship of de Camino" como se eu fosse ficar aqui para morrer. Foi duro dizer adeus para Karen. Ganhei uma grande hermana, e um lugar para ficar quando visitar Liverpool. Fiquei ali, nas estrada, vendo-os sumir no horizonte. É triste ficar para trás, mas eu precisava deste descanso para me renovar...

Fiquei horas escrevendo e bebendo vinho na rua, em frente ao ÚNICO bar da cidade, que era ao lado do ÚNICO albergue da cidade, que era ao lado da ÚNICA igreja da cidade, que eram as ÚNICAS coisas da cidade, hehehe. San Juan de Ortega é meio quarteirão, e é maravilhosa!

Jantei um prato típico e famoso na região: morcillas! Lê-se morcílhas. É um tipo de paio, de cor negra, com arroz, sangue e carne de porco. Show de bola!

Fui dormir às 21h00, e sem banho. Neste albergue só tinha água fria, e tava muito frio pra isso. Amanhã é outro dia e outro albergue... tomo banho por lá...

Total percorrido hoje: 13km

30/05 - Redecilla del Camino até Villafranca Montes de Oca

Hoje resolvi fazer um teste: voltar a andar com as minhas botas. Estavam apertadas, mas mesmo assim coloquei. Vamos ver o que vai dar...

Encontrei Rasmus logo na saída da cidade, e caminhamos juntos. Ele perguntou a minha religião, e eu disse que era um pouco católico e espírita. Ele não sabia o que era espiritismo, e eu expliquei com o meu "maravilhoso" inglês. Foi interessante... Ele entendeu! E os 7km passaram bem rápido.

Em Villamayor del Rio, tomamos café no albergue Acácio & Orietta. Acácio é brasileiro, e está há sete anos no Caminho de Santiago como hospitaleiro. Figura. O albergue é um pedacinho do Brasil... muito bem instalado. Se calhar, na sua viagem, tente passar a noite aqui: vale a pena.

Coloquei novamente a papete. A bota estava me incomodando muito, e fiquei com medo de ganhar novas bolhas. O problema da papete é que o pé não fica muito protegido, e você corre o risco de torcê-lo com mais facilidade.

Andei um pouco devagar. Meus pés dóem... toda a sola, e um pouco nos tornozelos... chegar até o meu destino foi um sacrifício. A cada pueblo, uma parada para tirar as meias e fazer uma massagem.

A primeira coisa que fiz em Villafranca foi parar na farmácia. Comprei um Redoxon, com 15 comprimidos efervecentes que repõe as vitaminas e sais minerais perdidas na caminhada.

Total percorrido hoje: 24km

terça-feira, junho 6

29/05 - Azofra até Redecilla del Camino

Esqueci de comentar: ontem furei minha primeira bolha!
Meu dedinho do pé direito era uma bolha com unha, hehehe. Nao dói nada! É só tomar cuidado, e atravessar apenas a pele com a agulha...

Dia perfeito para caminhar! Nublado, com vento um pouco frio. Os quilômetros vão muito mais rápido nestas condições... em menos de uma hora e meia andei 8km.

Em Cirueña, ouço algo familiar: "aonde fica essa porra?". Brasileiros! Luiz, de São Paulo, Lisboa, de Santos, e Marcos, de Botucatu. Os 3 se conheceram no caminho, e têm andado juntos desde então. É bom conversar em português de vez em quando. Marcos disse que no check-in, em São Paulo, sua mala pesou 9kg. A moça perguntou se ele faria o Caminho, e ele perguntou se sua mochila estava muito pesada. Ela respondeu que uns dois dias atrás, um louco estava levando 17,5kg para a mesma viagem... hehehe! Fiquei famoso!

Santo Domingo de la Calzada: que cidade! A catedral é fabulosa. Pena que não era permitido fotografar no interior... Existe mesmo um galo vivo lá dentro, e ele não cantou para mim... :(

Cheguei em Grañon para ficar. Duas horas depois, sentado no bar tomando cañas (lê-se cânhas - é como chamam o chopp daqui) de San Miguel, una cerveza mui buena, aparecem Rasmus, o dinamarquês, Mira e Rarder, da República Tcheca. Me convenceram, e andei mais 40 minutos até Redecilla.

Tomei uma sopa castellana, que vai pão, pimentão, chorizo, ovo e alho. Muito boa! Depois, tortilla de atum. A tortilla espanhola é um simples omelete, e é muito comum aqui comê-la a qualquer hora do dia.

Total percorrido hoje: 30km

28/05 - Navarrete até Azofra

Tomamos um café com leite no bar e zarpamos. Andamos em silêncio. Todos acordaram de mau humor.

Em Nájera, nos despedimos de Katrin. Ela iria para Bilbao, encontrar com sua mãe. Trocamos e-mails e fotos, e continuamos a estrada.

Pegamos um sol absurdo até Azofra. Chegamos em estado deplorável, mas tivemos nossa recompensação: um albergue-paraíso, muito bem instalado, e com cozinha.

Tomei um belo banho, lavei minhas roupas e fomos ao supermercado comprar nosso jantar: omelete! Ovos, cebola, queijo, milho, alho e mexilhões. Um banquete reforçado para amanhã. Mais estrada pela frente...

20km percorridos hoje

27/05 - Viana até Navarrete

Na saída, me despedi dos dois irmãos irlandeses, pois a filha de Ralf iria se casar e eles teriam que voltar para Irlanda. Trocamos e-mails e fotos.

Seguimos eu, Karen, Rasmus e dois figuras da República Tcheca, Mira e Rarder (lê-se Rárdêc), que leva um violino em sua mochila.

Em Logroño, visitei a igreja de Santiago, que na porta tem uma gigantesca estátua de Santiago Mata Moros. Maravilha! No interior, os vitrais apresentam a cruz de Santiago, marca do caminho, e também cruzes templárias. Me sentei numa cadeira, numa área meio isolada, e senti que já havia sentado ali antes...

Chegamos em Navarrete, eu e Karen, e encontramos Katrin sentada no bar. Disse que o albergue municipal estava lotado. O outro albergue estava muito caro. Decidimos dormir na rua. Minha primeira noite de dorme-sujo no Caminho. Minha "cama", uma pedra que sustentava uns arcos, tinha um degrau que ficava exatamente no meio do fêmur... foi uma noite mal dormida, mas uma experiência incrível.

Total percorrido hoje: 23km

26/05 - Los Arcos até Viana

Comecei a andar, e uma meia hora de caminhada depois comecei a sentir fortes dores no meu tornozelo direito. Fiz um teste: troquei a bota pela papete, e comecei a andar muito bem. Acho que vou mudar de calçado de agora em diante.

Em Sanson, encontrei 2 irmãos irlandeses, Ralf e Uinsuinn, lê-se ânchín, que devem ter pelo menos uns 70 anos. Umas figuras. Uinsuinn fala 4 línguas ao mesmo tempo, me chama de fratellino, e me dá um abraço. Na mesma parada, encontrei Fernando, um brasileiro que iria andar até Burgos. Fui com ele até Viana.

O albergue de Viana é bem grande, e em cada quarto tem 6 camas, sendo 3 em 3 andares... Fiquei no último andar. É fácil subir... o problema é descer.

Encontrei uma galera no albergue, e fizemos um jantar coletivo. É bem mais barato que o menu do peregrino. Depois do jantar, ficamos tocando violão. Eu, Marcelo, Karen, de Liverpool, Katrin, Alemanha, e Rasmus, um dinamarquês que trouxe um mini-violão consigo. Durante o "lual", em pleno sol da Espanha, ganhei de Rasmus um kazzoo, um instrumento de sopro muito louco, que disseram ter sido feito para mim. 22h00. O sol se põe na Espanha, e a porta do albergue se fecha. Temos que dormir.

Total percorrido hoje: 19km

25/05 - Ayegui até Los Arcos

Acordei ao som das 4 Estações de Vivaldi, que ecoavam no ginásio. Demorei um pouco para sair, pois cuidei das bolhas que apareceram. Nada grave. Apenas coloquei um band-aid em cada uma com tintura de guaçatonga que minha mãe me deu. Esse troço faz milagres! No dia seguinte, nada de bolhas!

08h20. Parei na fonte de vinho e água, mas só abriria às 10h30. Consegui, abrindo e fechando a torneira, uns 4 goles... o jeitinho brasileiro faz milagres nestas horas... hehehe

O trecho entre Villamayor de Monjardim até Los Arcos é praticamente um deserto verde: 11km de estrada de terra cercados por infinitos campos de feno. Com o sol forte, e sem sombra, é quase um inferno...

Cheguei a Los Arcos 15h30. Lavei roupa e fui jantar.

Total percorrido hoje: 20km

sábado, junho 3

24/05 - Puente la Reina até Ayegui

Estava fazendo as contas, e ontem completei meus primeiros 100km! Faltam uns 700, ainda... hehehe

Andei sozinho até Mañeru, aonde encontrei Katrin, uma alemã que conheci em Zubiri, amiga do holandês Robert e do Marcelo (BR). Chegamos em Estella, o target do dia, mas o albergue estava lotado. Tivemos que andar até a próxima cidade, Ayegui, 2km pra frente...

O albergue de Ayegui é dentro de um ginásio de pelota basca... divertido.

Uma coisa que lembrei da caminhada de hoje: ao terminar de subir uma montanha, vi, lá para trás, o Perdón, que havia cruzado ontem. É muito louco perceber que estou passando pelos lugares, e deixando muitos quilômetros para trás.

Total percorrido hoje: 23,5km

23/05 - Cizur Menor até Puente la Reina

Saí de Cizur acompanhado de Fabian, uma suíça que conheci em Roncesvalles. Uma figura: baixinha, anda com uma bengalinha no melhor estilo "mestre Yoda" e, além do francês, fala espanhol, inglês, português e russo, que considera sua língua preferida.

A subida do Perdón - uma pequena lembrança de como foi duro cruzar os Pirineus. Lá no topo, um frio absurdo, e uma descida mais absurda, cheia de pedras... paguei mais pecados, e pedi muitos perdões... hehehe

Encontrei em Urtega Dean, o inglês que conheci ontem, e fomos conhecer Eunate, uma igreja românica construída no séc. XII, aonde existem vários mistérios ao seu redor, envolvendo os cavaleiros templários, e algumas lendas.

Cheguei a Puente la Reina e fui... lavar roupa. Paseei pela cidade, conheci a igreja românica, e quando voltei, Dean havia pedido para a hospitaleira se poderia ficar mais um dia por lá, pois estava com o tornozelo fudido... mais uma despedida no caminho. Isso é estranho... todos vão ao mesmo lugar, mas muitas pessoas vêm e vão, passam sem dizer oi, ou dizem oi e se tornam amigos para sempre, até a separação. As amizades e irmandades são muito intensas no Caminho.

Total percorrido hoje: 20km

22/05 - Arre até Cizur Menor

Um dia um pouco light de caminhada. Apenas 11km. Saí com Daniel, e nos separamos na entrada de Pamplona, pois eu iria resolver uns pepinos.

PAMPLONA! Minha casa em alguma vida passada... olhava cada coisa como se me lembrasse de cada detalhe, cada pedra, cada calle (lê-se cáie, rua). Na entrada do museu, um grupo grande de turistas belgas me viram, e pediram felizes para tirar fotos comigo... hehehe. Um peregrino! Eu me senti um santo... Eles agradeceram, e um dos velhos me deu €5,00 de agradecimento... hehehe... vale a pena ser peregrino...

Postei 3kg para Santiago. Minha mochila está beeeeeeeem mais leve, agora. No shopping, comprei um saco de dormir de 600g, MiniLight... e me senti como um ET, pois estava na parte nova da cidade, carregando toda a minha tralha e o meu cajado - que peguei na floresta em Roncesvalles, não me lembro se já havia falado sobre ele -, que tem uns 2m de altura...

Andei mais uns 4km e cheguei em Cizur Menor. Reencontrei o Marcelo, um brasileiro de Porto Alegre, e conheci 3 irlandeses e 1 inglês. Acabamos com a cerveja - San Miguel, muuuuito boa - da máquina do albergue...

Total percorrido hoje: 11km

quinta-feira, maio 25

21/05 - Zubiri até Arre

Saí de Zubiri às 07h20 com David, um americano que não entende porra nenhuma de espanhol, e apenas "sorri" para as pessoas para tentar fazer com que o entendam.

Este caminho está se saindo um maravilhoso curso de inglês, mesmo... hehehe

De Larrasoaña até Iroz, me senti dentro de uma floresta élfica do Senhor dos Anéis: mata fechada, um rio correndo ao lado do caminho, e muita paina flutuando, como se fossem flocos de neve. Tem uns lugares em que a grama fica totalmente branca.

Uma parte do caminho estava interditada por uma barreira que ruiu, e pegamos um desvio beeeem longo. Queríamos chegar em Arre, mas a cada pueblo que parávamos, alguém respondia que faltavam 2 km...

Chegamos a Arre! Arre égua, desculpe o trocadalho, que cidade bonita! Da ponte de pedra chegamos numa igreja românica do século XII, e o albergue dos peregrinos é o mais bonito e melhor ajambrado que peguei até agora. Valentin, um marista, toma conta do lugar.

No dia seguinte, antes de sair, deixei o meu "bom e velho" saco de dormir de presente para o albergue. Ele devia pesar uns 2 kg ou mais...

Total percorrido hoje: 20km

sábado, maio 20

20/05 - Roncesvalles até Zubiri

Despertei às 3h00, achando que estava atrasado para acordar. Demorei 1 hora para dormir novamente...

07h00: Tudo pronto para sair. Este trajeto é muito mais AMENO que o de ontem, mas com a mochila ainda pesada ainda foi torturante.

Na realidade, a meta era Larassoaña, 6km adiante, mas meus pés não agüentaram. GRAÇAS A DEUS AINDA NAO APARECEU NENHUMA BOLHA!

Às 14h00 chegamos em Zubiri - uma cidade medieval, também -, e decidi ficar, por paixão à primeira vista. Me despedi de Gerti, que foi para Larassoaña. Ela tem apenas 28 dias para chegar à Santiago, e eu não preciso abusar da sorte e me estourar as costas e os pés.

Albergue com água quente, máquina de lavar e INTERNET GRÁTIS! Por isso que atualizei desde minha saída do Brasil. Provavelmente farei desta forma.

Amanhã andarei até uma cidade antes de Pamplona. Como é domingo, o correio não estará aberto. Com isso, chegarei pela manhã do dia seguinte em Pamplona para despachar pelo menos metade da minha mochila, tentar comprar um saco de dormir BEEEEEM mais leve, comprar o ADAPTADOR para o carregador do celular e das pilhas da digital - CLARO, isso também não aconteceu por falta de aviso, pai -, e seguir para Cizur Menor, aonde "pousarei".

Até lá!

Total percorrido hoje: 22km

19/05 - Saint Jean até Roncesvalles

Acordei às 06h00, 01h00 no Brasil, e arrumei minhas coisas e me preparei para tomar café. Marie disse, num francês misturado com espanhol, que precisávamos nos alimentar muito bem, pois esta etapa é a mais difícil do caminho. É... ela NÃO estava enganada.

Eu e Gerti saímos às 08h00 de Saint Jean. Fiquei apaixonado pela rue de Citadelle - uma típica cidade medieval, cercada por gigantescos muros de pedra.

Subidas, descidas, subidas íngremes e mais subidas. Andar nos Pirineus, com uma mochila acima do peso e sem NENHUM preparo físico - tá bom, não foi por falta de falar... - é uma PENITÊNCIA. Acho que paguei os pecados de pelo menos uma vida passada... e acho que tenho pecados de muitas vidas passadas além da minha para pagar...

Foi quase na metade desta etapa que REALMENTE me caiu a ficha: CARALHO! ESTOU FAZENDO O CAMINHO DE SANTIAGO, MESMO! Tudo é real!

Este trajeto é simplesmente MARAVILHOSO! A paisagem é fenomenal, provavelmente para nos compensar de tanto sofrimento... hehehe.

Depois de 11 cansativas horas, chegamos a Roncesvalles, um tanto atrasados, mas conseguimos camas na pousada da Colegiata. Após o banho - quente -, fomos para a missa de bênção dos peregrinos. Me senti na época medieval: um igreja românica totalmente feita de pedra, e no final da missa, um belo canto gregoriano. Me emocionei muito com isso... foi como voltar para casa.

Saímos da missa esfomeados diretamente para o restaurante. Foi lá que realmente vi que o Caminho de Santiago é patrimônio mundial. Na minha mesa havia: 1 brasileiro - eu, claro -, duas austríacas, um russo, dois americanos, dois espanhóis, uma suíça e uma mexicana. Uma babel fantástica para todos se entenderem... Eu, com o meu parco inglês, traduzia para os outros o que era dito em espanhol e vice versa, com o meu "portunhol".

Depois disso, CAMA, antes, é claro, de tentar tirar mais algumas coisas da mochila, que ainda está insuportável.

APELO: Jô, PROMETO para você que assim que chegar em São Paulo te dou outra lata de presente...

Um Flanax, emplastro nos ombros, massagem nos pés, e boa noite.

Total percorrido hoje: 27km

18/05 - Conexões

Cheguei no Aeroporto de Madri às 11h00, e tive que esperar minha conexão para Pamplona até as 14h30.

O Aeroporto de Madri é FARAÔNICO. Um gigantesco galpão de embarque, com pelo menos 1km, e outro igual, para desembarque. Arquitetura muito bonita, mas fria demais para o meu gosto. Nao sou amigo de obras gigantescas com grandes espaços vazios. Do galpão de desembarque para o de embarque temos que pegar um trem!

Finalmente, o avião: à hélice. Cheguei em Pamplona e fiquei apreensivo â espera da minha mochila... e ela chegou.

Pegamos o táxi para Saint Jean Pied-de-Port em três: eu, Giuliano, um italiano que pararia em Roncesvalles e Gerti (lê-se Guêrrti), austríaca.

Chegamos em Saint Jean e ficamos na pousada de Marie, uma maravilhosa e sorridente pessoa, que há muitos anos hospeda peregrinos. Jantamos num típico restaurante francês. Era 22h00, e começava a anoitecer... Isso é muito diferente...

No quarto, comecei a escolher o que ficaria em Saint Jean, pois minha mala estava muito pesada para cruzar os Pirineus. Deixei uns 3kg, triste por deixá-los, com Marie, para poder dar a algum peregrino sem provisões.

Amanhã é o grande dia: minha primeira etapa no Caminho de Santiago.

[PS: No computador aonde estou, nao encontrei o "til", por isso que nao aparecem os ao e oes...] - A partir do dia 12/07/06, comecei a revisão do blog.

17/05 - A Saída

No aeroporto pesei minha mochila, e uma coincidência interessante aconteceu: 17,5kg!

Eu já imaginava o trabalho que este peso me daria, mas fazer o que...

Muita choradeira no aeroporto, e fui. Na fila de embarque, fiquei muito feliz por ter me cadastrado no Cartão Iberia de Cliente Preferencial. Fui chamado no interfone, e quando cheguei lá, fiquei sabendo que o vôo estava lotado, e minha passagem havia recebido um UPGRADE para a classe executiva! MARAVILHA! E ainda sentei na janela!

A Espanha, vista do alto, é muito bonita. Não sabia ainda o que me esperava em terra...

terça-feira, maio 16

Haja Imosec

Esta é a última vez que posto do Brasil até a volta...

Falta muito pouco, mesmo! Amanhã eu embarco.

Se tudo correr bem, começarei a andar a partir do dia 19/05.

FIQUEM LIGADOS! BREVE ATUALIZAÇÕES!

ABRAÇÃO!


P.S.: Agradeço a todos que participaram da festa surpresa organizada sexta-feira passada. Fiquei muito emocionado em vê-los! Se a festa de despedida foi assim, imagino como será quando eu partir... hehehe

quinta-feira, maio 4

terça-feira, maio 2

Falta pouco!

É... Está chegando o grande dia!

Tenho menos de duas semanas para os últimos preparativos da minha viagem. Estou na fase dos pequenos detalhes: escolha das roupas, compra dos últimos equipamentos e início da arrumação da mochila.

• Hoje comprei a toalha-fralda para iniciar os testes de adaptação. Você a encontra em qualquer loja especializada em bebês. É uma peça de fralda de 1,20 x 0,70cm, que funcionará como toalha na viagem. Além de ser bem leve, enxuga rápido e seca rápido. A caixa com 3 custou R$11,50. Levarei também umas três fraldas menores (0,70 x 0,70cm) para funcionar como toalha de rosto. A caixa com 5 custou R$9,50.

Breve, novidades!

quinta-feira, abril 13

FELIZ PÁSCOA!

Feliz Páscoa!
Clique na imagem para vê-la maior

sábado, abril 8

Credencial del Peregrino na Mão!

Hoje fui até a AACS, Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, para retirar a minha Credencial del peregrino.

Esta é a capa
Quando eu tiver uma foto do miolo da
Credencial, "postarei-a-a" aqui. Aguardem!


Ela será a minha "carta de recomendação", como era conhecida nos tempos medievais. Ao chegar em cada parada, apresentarei esta credencial para conseguir uma cama e o famigerado menu do peregrino, que fornece - pela média de 12 euros - entrada, prato principal, sobremesa, pão, e uma garrafa de vinho ao cansado e faminto peregrino.

segunda-feira, abril 3

DICA: Cuide dos pés ANTES

Seus pés são "mais sagrados" que o Caminho. Sem eles, não tem como se chegar ao túmulo do apóstolo. Portanto, cuide muito bem dos seus pés ANTES, para não sofrer depois.

• VOZ DA EXPERIÊNCIA: Fui, semana passada, a uma podóloga. RECOMENDO! Além das boas dicas para cuidados com os pés, ela colou uma placa corretiva nas unhas dos meus dedões para evitar encravamento. Cada caso é um caso. No meu, era esse. Seu pé pode estar perfeito, mas é sempre bom ouvir um profissional.

• BOTAS: Amacie antes de caminhar. Nunca compre uma bota e vá direto realizar o Caminho de Santiago. Lá aonde Judas perdeu as botas você perderá toda a sola do pé, que se transformará numa bolha gigante. Escolha a marca da sua bota com cuidado. Experimente, veja qual se adapta melhor ao seu gosto. Use direto pelo menos uns quatro meses ANTES. Faça caminhadas, aqui, em diferentes terrenos para se adaptar melhor. Existem pessoas que preferem tênis. Tudo bem, eles são mais confortáveis, mas não evitam uma torção no tornozelo. Melhor prevenir do que remediar.

• MEIAS: Muitos sites e pessoas com quem conversei recomendam que se use DUAS meias com a bota. Uma fina, de preferência de algodão, e, por cima, uma grossa, também de algodão. Recomendam também que é bom lambuzar entre os dedos com vaselina, para evitar atrito e, conseqüentemente, bolhas.

• PALMILHA: Vá a um ortopedista. Caso você tenha algum problema com suas passadas, deverá desenvolver palmilhas especiais de silicone, moldadas em gesso. Eu não preciso de um corretor de passadas, mas vou comprar uma palmilha plana de silicone para melhorar o conforto do pé dentro da bota.

terça-feira, março 28

Mochila nas costas e boa viagem!

Desde janeiro aguardo este presente de aniversário dos meus pais... Pesquisei diversos lugares, e encontrei a Mar & Sol, uma loja próxima ao metrô Praça da Árvore, com um simpático e maluco casal atendendo. Recomendo. Os preços são honestos.

E esta é a minha nova mochila. Ela será a "minha casa" enquanto eu estiver na Espanha. Além de ser muito bem acabada, tenho certeza de que ela me acompanhará por várias e várias viagens ao longo da minha vida.

Mountaineer 75+15 Curtlo
Clique na imagem e conheça o site da Curtlo

sexta-feira, março 24

Tá pensando que é pouca merda?

É MUITA MERDA!


O Castrezana, do OMEdI, acaba de fazer uma propaganda dos meus blogs n'O Maior Espetáculo da Internet!

Veja aqui

Fico "assaz deveras" agradecido com a homenagem, parceiro!

segunda-feira, março 20

AGORA SIM!

Estou com a passagem comprada! Agora não tem mais como escapar! Hehehe


Já cadastrei o roaming internacional do celular, também. Uma coisa a menos para pensar mais pra frente...

Mais novidades em breve!

sábado, março 18

DICA: Reserva

Como proceder para planejar a compra da passagem?

Sairei de Saint Jean Pied-de-Port. Para isso, reservei a passagem de IDA da seguinte forma:
SÃO PAULO - MADRI, com uma conexão MADRI - PAMPLONA
De Pamplona, pegarei um taxi até Saint Jean. Isso acontecerá no meu primeiro dia na Espanha. Meu caminho começará realmente a partir do 2º dia.

A VOLTA, caso você não resolva passear por outros lugares, pode ser assim:
SANTIAGO DE COMPOSTELA - MADRI - SÃO PAULO

Achei que eu teria o bilhete "aberto" para planejar a volta. Balela! Em virtude das imigrações ilícitas, agora você tem que comprar a passagem com o dia certo para a volta. Caso haja um atraso ou um adiantamento, você terá que pagar uma multa de US$100,00 para alterar a data da passagem. Roubalheira, né? Fazer o quê? A culpa é desse povinho que resolve morar clandestino na Europa (Foi um desabafo estúpido e sem nenhum conhecimento. Admito e deixo escrito riscado aí, apenas pra lembrar de pesquisar a respeito um assunto antes de escrever qualquer coisa)

quinta-feira, março 16

DICA: Passaporte

Como tirar o Passaporte?

• Vá até o site da Polícia Federal;

• Preencha o Formulário de Requerimento de Passaporte diretamente do site, ou solicite o documento DPF-219 em qualquer papelaria (o valor do papel não chega a R$2,00);

• Imprima, do site, o GRU (Guia de Recolhimento da União) e pague em qualquer banco. O valor da taxa é R$89,71.

• Documentos e informações necessárias (tiradas do site da Polícia Federal):
1.0 - Carteira de Identidade Civil (RG) ou Militar, para os maiores de 18 anos;
1.1 - Carteira de Identidade Civil (RG) e Certidão de Casamento para mulheres que mudaram de estado civil, mas que continuam com Carteira de Identidade de solteira;
1.2 - Carteira de Identidade Civil (RG) ou Certidão de Nascimento para os menores de 18 anos;
Observação: Será aceito como documento de identidade Carteira Funcional, válida em todo o Território Nacional, expedida por entidades de classe, ou outro documento de identidade válido por Lei, que contenha fotografia, nome completo, filiação, data e local de nascimento do titular, dados estes que, obrigatoriamente, deverão ser transcritos no formulário de requerimento do passaporte;
2.0 - Título de Eleitor e comprovantes de que votou na última eleição (dos dois turnos, se houve). Na falta dos comprovantes, declaração da Justiça Eleitoral de que está quite com as obrigações eleitorais;
3.0 - Certificado de Reservista, para os requerentes do sexo masculino com idade entre 18 e 45 anos, ou declaração da Junta Militar de que está quite com o Serviço Militar;
3.1 - Para os brasileiros naturalizados a quitação militar é exigida a qualquer idade;
3.2 - Certificado de Naturalização, para os Naturalizados;
4.0 - 02 (duas) fotografias iguais do tamanho 5 x 7 cm, datadas (dia, mês e ano, sendo o ano com quatro dígitos) tiradas há no máximo seis meses, com fundo branco, de frente e que identifique plenamente o requerente;
5.0 - Formulário de requerimento de Passaporte modelo DPF-219, à venda em papelarias e disponível via Internet (Formulário de requerimento de passaporte- download), preenchido à máquina ou em letra de forma legível, com caneta esferográfica azul ou preta;
6.0 - Comprovante de pagamento da taxa em REAIS (R$ 89,71), conforme tabela das receitas existente na própria guia GRU (Guia de Recolhimento da União), por intermédio da guia GRU (Guia de Recolhimento da União), em 02 (duas) vias, com apresentação do CPF do requerente, código da receita e da unidade arrecadadora;
Obs: antes de efetivar o pagamento, verifique se a unidade arrecadadora foi preenchida corretamente. Não é possível requerer passaporte em unidade distinta daquela que constar na GRU;
7.0 - Apresentar o Passaporte anterior, quando houver (válido ou não). A não apresentação deste, por qualquer motivo, implica em pagamento da taxa em dobro;
8.0 - O brasileiro que tiver seu passaporte válido inutilizado por qualquer repartição consular ou de imigração estrangeiras, no Brasil ou no exterior (por negativa de visto ou deportação), não está impedido de requerer um novo passaporte. Basta apresentar o passaporte, válido ou não, para cancelamento. Com este gesto, o usuário evitará o pagamento da taxa em dobro e a simulação de extravio do passaporte, pois esta acarreta providências inúteis do DPF visando à recuperação do documento;
9.0 - o passaporte será entregue pessoalmente a seu titular , mediante recibo;
10.0 - A Igualdade de Direitos concedida a portugueses não é suficiente para obtenção de Passaporte, sendo necessária a naturalização;
11.0 - Os passaportes requeridos e não retirados no prazo de 90 (noventa) dias serão cancelados.
12.0 - no caso de menor de 18 anos, será exigida autorização expressa dos pais (pai e mãe), ou do responsável legal, ou do Juiz competente. A presença de um dos pais e do menor é indispensável.
12.1 - Na ausência de um dos pais, apresentar autorização específica para passaporte com firma reconhecida em cartório, por autenticidade, no requerimento para passaporte (campo 33), ou avulsa, ou do Juiz competente.
12.2 - Em caso de óbito de um dos pais, apresentar a Certidão de Óbito original.
13.0 - Se, ao requerer o passaporte para o menor um dos pais estiver ausente do domicílio ou não puder acompanhar o filho, deverá preencher autorização específica conforme modelo abaixo, reconhecer a firma e juntar ao requerimento de passaporte com cópia autenticada da respectiva Carteira de Identidade;

• O site possui uma lista dos postos aonde é possível tirar o passaporte.

RECOMENDAÇÃO: vá bem cedo ao local! Uns postos distribuem poucas senhas por dia, e se você chegar mais tarde terá que voltar no dia seguinte.

BOA SORTE!